Meus íntimos delírios


    
                               Não tenho mais dúvida:  o amor, a paixão, seja o nome que queiram dar, é um detalhe. Sempre foi assim comigo. Desde a minha primeira paixão por aquela moça de olhos verdes. Olhei para os olhos verdes dela e me apaixonei de pronto.  Depois, claro, quebrei a cara. Porque as pessoas não estão nem aí para o que sentimos.
                               Mas estas primeiras impressões dos nossos primeiros tempos  se fixam em nós de tal maneira que viram quase que um TOC (transtorno obsessivo compulsivo).
                               E vamos pela vida afora nos apaixonando sempre do mesmo jeito.
                               Com a idade, até mudamos alguns detalhes. Ora, são os olhos verdes, que podem  também ser azuis, castanhos e pretos... Ora, é aquele olhar sorrateiro, brejeiro, e o menino aqui vai logo se apaixonando.
                               Qualquer detalhe serve. Mas que mistério.  Por que somos assim?
                               Meus Deus!  Como é difícil entender isso. Aliás, estou vendo que ninguém sabe nada da vida. Agradeço aos poetas, são mais sinceros. Sabendo que não sabem nada, criam o seu mundo poético e aí vivem suas vidas regaladas de intenso amor.
                               Como deve ser boa essa vida dos poetas e poetisas. Como amam!  Todo dia um amor novo, uma nova aventura.
                               E não abrem mão desse mundo alado que eles têm! Vão a todos os lugares, a todas as paragens. Não param um instante. Que maravilha de vida!
                               Uma vez quis tirar uma poetisa dessa vida, dessa miragem. Convidei-a para a vida real. Fui  rechaçado como se eu fosse um anjo mau.
                               Depois entendi.  Se os poetas têm sede, bebem, aos goles, o rio da Prata. Se têm fome, comem  a lua. 
                               E eu, apenas um pobre cronista, sou obrigado  a viver o mundo real, este mundo cruel.
                               Se eu encontrasse a moça dos olhos verdes, quem sabe ainda teria tempo de viver meu sonho...