Crônica #084: TODO HOMEM BONITO É AFETADO?
Outro dia fui fazer um exame de eletromiografia para verificar possíveis sequelas de um acidente de trabalho que sofri em agosto de 1989. Tive o achatamento e estenose de dois discos da coluna cervical, calcificando-os e as três vértebras correspondentes resultaram como se fossem uma. Isso, às vésperas do nascimento do meu primeiro filho. Dou graças a Deus, pois poderia ter sido pior e eu, por pouco, não fiquei tetraplégico.
O neurologista é um médico muito loquaz. Pensei que eu conversasse demais, mas estava ali alguém que me depôs desse triste pódio sem direito nem ao terceiro lugar. E eu ali, só a ouvir, sem poder falar para não atrapalhar a coleta de dados dos exames. E, como disse o famoso apresentador televisivo SS, quem procura acha. E encontrei algumas complicações neurológicas de atenuação de transmissão nervosa para as extremidades dos membros por causa daquele fatídico acidente.
Já relatei em uma outra crônica minha que eu teimava em me achar feio em vários aspectos, apesar de as meninas atestarem o contrário e sempre me acharem bonito etc. etc. E era um fato natural eu nunca reconhecer essa tão disputada beleza, embora, lá no íntimo, num átimo de pensamento, eu quisesse concordar com elas. Mas, curiosamente preferia me achar feio. Eu nunca entendera essa minha postura até que aquele médico, falando pelos cotovelos, me perguntou:
- “Você acha um homem bonito?”
- “Claro!”, respondi. “Se eu posso achar um homem feio é porque posso diferenciá-lo de um bonito. Não é verdade?”
- “É verdade! Há os que teimam em negar isso, mas todos acham o outro bonito ou feio. Mas tem também um porém. É bem verdade que todo homem bonito é meio afetado, efeminado.”
- “Discordo, Doutor! Isso é puro machismo bobo e filosofia barata. Quer dizer que para o senhor, eu devo ser gay, caso estiver me achando bonito? Nada a ver!”
É triste como as pessoas querer sempre justificar os seus preconceitos das formas mais absurdas. Onde já se viu? Será se era por isso que eu teimava em não me achar bonito? Claro que eu não era nem sou nenhum narcisista, mas o preconceito latente me levava a falsear a verdade e viver em paz comigo mesmo e minha beleza. De lá pra cá cresci e evoluí bastante. Não estou nem aí pra o que acham ou deixam de achar se eu disser que fulano ou sicrano é bonito. Desde que o homem não fique gemendo e suspirando por causa da beleza do outro, não veja nada de mais. E se assim o fizerem, é lá com eles.
Mas o meu conceito de beleza é mais num contexto plástico. Como desenhista que sou, gosto muito de desenhar paisagens e rostos. E o belo para mim é muito subjetivo. Não sigo os mesmo critérios da tendência para definir a formosura. E, se é para mim pode não ser para outrem. Em minha concepção, é uma questão de linhas e curvas. Se alguém tem traços fisionômicos bem definidos, bons para traçar um bom desenho, esse ou essa é o meu ícone da beleza.