Eu Comprei no Mercado Livre
Tenho a fazer uma confissão constrita. Comprei no “Mercado Livre”. O que tem isso? Pergunta-se. Muito, especificamente, em nosso caso, por desempenhar a notória função de Auditor Fiscal, zeloso defensor dos cofres públicos. Antes que se me atirem venenosos dardos e acusações pagãs, parto em minha legítima defesa.
Desejava adquirir uma câmera digital. Sou pouco afeito às artes fotográficas, contudo, avizinhava-se a data natalícia. Ansioso por fazer bela figura, ao tempo de fotografar os filhos em eventos de final de ano escolar; fiz pesquisa, certifiquei da boa conduta do vendedor no dito “Mercado”, exigi nota fiscal e encomendei o produto. Tudo acertado e combinado, acreditava fazer um negócio digno e sério, com uma honesta empresa do mundo capitalista.
Enviei o dinheiro por antecipação. Este o segundo erro, visto o primeiro foi efetuar a compra. Solicitei ao vendedor que me enviasse a mercadoria por “Sedex”, mediante reembolso; ele, recusou-se ao mesmo, enviando-a por encomenda normal. Deveria o despacho pousar-me à porta no prazo máximo de 15 dias úteis, o que não se deu. Passei a rastrear a mercadoria via correio, encaminhei reclamação formal.
Encerrou-se o ano letivo, transcorreu o Natal e a tudo fotografei com minha antiga câmera convencional. Já convicto do extravio e da perda compulsória de meus quinhentos reais, cai no silêncio e amargura que geram tais eventos. As perguntas da família abalavam-me: “e a câmera pai, e a câmera?” Comparava-me a um asno, daqueles tinhosos, com compridas orelhas.
Rastreando a encomenda no computador, vi sedimentar-se meu infortúnio. Fora, a preciosa carga, destinada a registrar os bons eventos de minha vida familiar, retida pela fiscalização estadual, a minha fiscalização. Fiquei entre a cruz e a espada. Pressionado pelo dever. Identificar-me-ia aos colegas, solicitando a liberação do produto, ou permitiria que a honestidade se fizesse presente, aguardando o desenrolar, como simples contribuinte?
Sei que a informação irá chocá-los: preferi a atitude honesta. Eu estou sempre a agir na contra-mão da história. A mercadoria chegou, paguei o imposto e a multa, o que elevou em R$ 175,00 o valor da minha compra. Paguei satisfeito, sem identificar-me aos colegas e evitando duplo constrangimento: o deles, ao ser pressionados por um membro do quadro de servidores estaduais; e o meu, por ser algoz dos que apenas executam o seu trabalho.
Fui educado e solicito. Questionei-lhes apenas a respeito do valor a pagar. Efetuado o depósito, despedi-me, agradecendo-lhes pela presteza e confessando ter comprado no tal Mercado:
- São ocasiões “onde o que é barato nos sai caro”, afirmei.
Hoje, ostento minha bela câmera digital, que após largo suplício, destina-se agora ao registro dos momentos de alegria doméstica. Se a verdade nos diz que a cada minuto nasce um otário, registre-se o meu nome como um destes, em douradas letras emolduradas dentre uma distinta moldura; um otário que quita suas contas, o que não me redime desta triste sina. E viva a Internet!
Tenho a fazer uma confissão constrita. Comprei no “Mercado Livre”. O que tem isso? Pergunta-se. Muito, especificamente, em nosso caso, por desempenhar a notória função de Auditor Fiscal, zeloso defensor dos cofres públicos. Antes que se me atirem venenosos dardos e acusações pagãs, parto em minha legítima defesa.
Desejava adquirir uma câmera digital. Sou pouco afeito às artes fotográficas, contudo, avizinhava-se a data natalícia. Ansioso por fazer bela figura, ao tempo de fotografar os filhos em eventos de final de ano escolar; fiz pesquisa, certifiquei da boa conduta do vendedor no dito “Mercado”, exigi nota fiscal e encomendei o produto. Tudo acertado e combinado, acreditava fazer um negócio digno e sério, com uma honesta empresa do mundo capitalista.
Enviei o dinheiro por antecipação. Este o segundo erro, visto o primeiro foi efetuar a compra. Solicitei ao vendedor que me enviasse a mercadoria por “Sedex”, mediante reembolso; ele, recusou-se ao mesmo, enviando-a por encomenda normal. Deveria o despacho pousar-me à porta no prazo máximo de 15 dias úteis, o que não se deu. Passei a rastrear a mercadoria via correio, encaminhei reclamação formal.
Encerrou-se o ano letivo, transcorreu o Natal e a tudo fotografei com minha antiga câmera convencional. Já convicto do extravio e da perda compulsória de meus quinhentos reais, cai no silêncio e amargura que geram tais eventos. As perguntas da família abalavam-me: “e a câmera pai, e a câmera?” Comparava-me a um asno, daqueles tinhosos, com compridas orelhas.
Rastreando a encomenda no computador, vi sedimentar-se meu infortúnio. Fora, a preciosa carga, destinada a registrar os bons eventos de minha vida familiar, retida pela fiscalização estadual, a minha fiscalização. Fiquei entre a cruz e a espada. Pressionado pelo dever. Identificar-me-ia aos colegas, solicitando a liberação do produto, ou permitiria que a honestidade se fizesse presente, aguardando o desenrolar, como simples contribuinte?
Sei que a informação irá chocá-los: preferi a atitude honesta. Eu estou sempre a agir na contra-mão da história. A mercadoria chegou, paguei o imposto e a multa, o que elevou em R$ 175,00 o valor da minha compra. Paguei satisfeito, sem identificar-me aos colegas e evitando duplo constrangimento: o deles, ao ser pressionados por um membro do quadro de servidores estaduais; e o meu, por ser algoz dos que apenas executam o seu trabalho.
Fui educado e solicito. Questionei-lhes apenas a respeito do valor a pagar. Efetuado o depósito, despedi-me, agradecendo-lhes pela presteza e confessando ter comprado no tal Mercado:
- São ocasiões “onde o que é barato nos sai caro”, afirmei.
Hoje, ostento minha bela câmera digital, que após largo suplício, destina-se agora ao registro dos momentos de alegria doméstica. Se a verdade nos diz que a cada minuto nasce um otário, registre-se o meu nome como um destes, em douradas letras emolduradas dentre uma distinta moldura; um otário que quita suas contas, o que não me redime desta triste sina. E viva a Internet!