Crônica de 12 de Outubro (IX). Steve Jobs (Resquiçat In Pace)
Crônica de 12 de Outubro (IX) – Steve Jobs (Resquiçat In Pace)
Continuam as manifestações sobre o passamento de Steve Jobs. E como era de se esperar, é bem mais que pesar. O homem era constantemente incensado. Se brincar, virar santo.
Jobs era um nerd, mas não tolerou os estudos da faculdade. E aí, resolveu se mandar para o oriente para ajustar a cabeça, do que decorre a intensa sugestão das notas e matérias publicadas na Internet de que ela teria se constituído numa espécie de iluminação da qual resultou o sucesso da Apple e seu sistema operacional, embarcados em unicamente em computadores da própria Apple.
Não é bem assim: a criação da revolucionária interface gráfica amigável, baseada no uso de ícones e janelas foi do especialista Jef Raskin, especialista no relacionamento homem-máquina,que, acabou levando uma rasteira de Jobs no fim (afastamento sumário e supressão de créditos intelectuais) do processo de criação do McIntosh. O que Jobs fez foi lançar no mercado o tal computador, que se converteu numa espécie de big bang a partir do qual se estabeleceu a mais incrível revolução tecnológica da humanidade – o que é, de qualquer forma, admirável.
Mas, claro, a Apple dos anos iniciais se tornou rapidamente um ícone pop. E a Apple da terceira fase tornou Jobs uma personalidade pop. Dizem que o homem inventou um monte de traquitanas revolucionárias. Menos: das supostas invenções citadas, só uma merece o status: o Ipod. O resto foi macaqueado de invenções precedentes – o Itunes não foi a primeira sacada comercial decorrente de simples desdobramento da prática da chamada pirataria virtual, o Iphone era um produto já previsível, e foi mais ou xerocado de aparelhos precedentes (Motorolla Moto King e LG KG 800, por exemplo). E o Ipad é mera evolução do Kindle (com adição de uma suíte de aplicativos saída do Iphone), da americana Amazon.
Onde estava a diferença dos produtos físicos e virtuais da empresa capitaneada por Steve ? Do seu apurado sendo de elegância e beleza – funcional e estética, que, ao par de sua mão de ferro administrativa, conseguia estabelecer para os seus produtos – verdadeiro estado de arte, que, por isto mesmo, eram recebidos com intensa admiração e festa no mundo fashion e que era replicada no mundo dos geeks, nerds e descolados.
Seu apurado sentido de elegância e sofisticação já podia ser percebido nas fotos de sua juventude – quando saboreava o sucesso do McIntosh, com o sistema operacional OS embarcado, onde pontuam a elegância no vestir, passando pela logomarca animada da PIXAR, entrando pela fantástica solução que encontrou para disfarçar a feiura dos tubos catódicos dos computadores pessoais no Imac, até o notável chassi e tela do celebrado Ipad.
Sempre gosto de me deter neste ponto: Jobs sempre apostou na informática e sempre imaginou a os milagres da informática acontecendo em suas traquitanas esteticamente privilegiadas e de uso individual e diferenciado. E, ao longo do tempo, transformou seus produtos de sucesso em fenômeno de mercado.
Além do mais, muito embora não fosse o foco inicial de seu objetivo de mercado, conseguiu, na última década, adaptar exemplarmente a produção da Apple às tendências, que indicavam o prodígio da comunicação via Internet acontecendo de forma multifacetada e mais ou menos liberta de equipamentos individuais.
Dos últimos produtos lançados, todavia, a despeito do culto e da lenda em torno, todos os produtos com a marca de revolucionários de sua empresa, somente o Iphone e o Ipad mantém a importância e impacto, em termos de mídia mercado.
A direção e a intuição do mundo da informação trabalha justamente no sentido da utilização a computação e da comunicação virtual independentemente da utilização ou manipulação de equipamentos individuais. Não se sabe exatamente como e quando vai acontecer. Mas, imagina-se que acontecerá em algum momento.
Neste sentido, gigantes como a Google vão embarcando em seu portfólio virtual até mesmo suítes de aplicativos similares ao Office, além de ter em caixa um volume espantoso de dinheiro e estabelecer uma senhora estrutura de recursos físicos e intelectuais para dar o pulo do gato na hora certa e (permitam o trocadilho) arrematar ou macaquear a solução encontrada, tal como fez Steve Jobs e Bill Gates, em relação ao sistema operacional de interface intuitiva da Sun Sistems.
O homem foi certamente um gênio criativo e empresarial que participou ativamente da revolução cultural mais intensa dos últimos tempos, representada pela popularização do uso da informática. E isto tinha há ver com sua inteligência privilegiada e o tino de empresário, num país onde a livre empresa é a regra, desde a sua fundação. E soube enfrentar com coragem e determinação, o câncer que o acometeu e lhe ceifou a vida. Mas, foi homem genial e obstinado, e não, santo.
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Em termos de popularização do uso de computadores pessoais e, enfim, de impacto na revolução digital, creio que o também genial Bill Gates teve importância equivalente, pois a revolução não teria ocorrido sem a criação e rápida popularização da plataforma Windows e da suíte Office – que rodava inicialmente sobre o sistema operacional DOS e podia ser instalada em qualquer computador com capacidade operacional para tanto.
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Tudo o que tenho de experiência dos produtos saídos da mente de Jobs é o uso do Quick Time, que utilizava para abrir vídeos gravados em formato
específico da Apple, muitos anos atrás. E não sinto que tenha perdido algo assim, do tipo imperdível...
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O Jobs do início de saga chegou ao ponto de posar com poses meio ridículas de efebo pop e uma maçã na mão esquerda, sinalizando bem o que pretendia com sua empresa e os seus produtos.
No fim da carreira, Jobs aparecia em público em apresentações de produtos que pareciam happenings. O símbolo da maçã aparecia num telão, em suas costas. E no lugar da maçã, colocava na mão esquerda os produtos que, enfim, tinham se transmutado no que representava simbologicamente a maçã - isto é, o símbolo pop de desejo, status e luxúria.
O que dizer? Obstinada competência!
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Um buzz sem-vergonha e despropositado, depois de ver uma foto recente de Bill Gates: terá ele instalado sobre o seu portentoso crânio uma peruca? O que acham?
- Esta crônica está publicada no meu blog "Possível Palavra", com uma charge que também é minha. Faça-me uma visita!
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