UMA BROMÉLIA - UMA SAUDADE

Ela tinha as cores do sentimento. Vermelha invocando o amor, a paixão, o carinho, o desejo. No entanto suas folhas eram verdes, como uma alusão a esperança de que o vermelho viesse a se tornar realidade. Era bonita, expressava-se com majestade e sua grandeza era infinita, apenas de seu pequeno tamanho. Uma bromélia, apenas uma bromélia, como tantas, de tantas espécies que existem na natureza. Mas naquele dia, 13 de outubro, ela significava mais. Deixava de ser apenas uma planta, uma flor, para ser um instrumento de comunicação. Era através dela que falava de sentimentos, um turbilhão de emoções que estava vivendo naquele momento. A Bromélia Vermelha, tinha essa finalidade. Falar aquilo que a timidez, a vergonha ou a falta de palavras me impedia de falar. Tornar concreto o que se passava dentro de mim com todas as minhas imperfeições, defeitos, qualidades e virtudes. Ela estava ali, mas na verdade apenas me representava pela impossibilidade de eu mesmo estar presente. A chuva fria, o banco da praça, os passantes apressados em esquivar-se dos pingos de chuva que caiam naquela tarde de primavera. E no meio disso tudo, de todas essas sensações busquei um meio de lhe falar de sua importância, de como faria a diferença em minha vida, e de como estava feliz naquele momento. Mas nem eu nem a bromélia conseguimos o nosso intento. Por mais que ela tenha se exibido, se mostrado, em toda beleza e perfume que possui não conseguiu que fosse ouvida e assim que através dela o meu recado fosse dado. Não sei se ela que não conseguiu ser ouvida ou você que não a quis ouvir. Aquela flor, naquele momento, se transformava em saudades, uma saudade antecipada, cortante, que fere e machuca. Mas que infelizmente se faz presente na vida de qualquer um que se dispõe a amar e a correr o risco de se ferir e se machucar a cada vez que se entrega ao amor. Talvez por isso a bromélia fosse vermelha. Porque as vezes o amor machuca e faz sangrar o coração. Provoca feridas profundas com seu jeito estranho de adentrar-se em nós, fazer morada, para logo em seguida nos lançar na teia do esquecimento e do vazio. Talvez o vermelho da bromélia não lembrasse como imaginava, o amor, a paixão, mas na verdade era uma referência a dor, ao sangue, de se perder alguém que se gosta muito. Fica apenas a lembrança, da flor majestosa dentro de seu vaso, eloqüente sem ser ouvida, pretensiosa sem, no entanto ter sido capaz de tocar seu coração. E tudo transforma aquele dia em despedida: a praça, os pingos, a chuva, o frio e a bromélia, manchada de vermelho, de sangue, de dor e de saudades. Saudades de algo que era para ser eterno, saudades do que era para ser vivido. Saudade: A palavra que hoje traduz a bromélia vermelha.