NA COZINHA COM NIGELLA
Vocês poderão estranhar, mas vez por outra me surpreendo pregado ao canal da GNT assistindo na “Na Cozinha Com Nigella”. Aliás, Nigella é o tipo da mulher que todo homem sentimental* e caseiro, sonha casar-se. A mulher é inteligente, bonita, e, além de aparentar ser gostosa, prepara pratos que tenho certeza de os serem. Prepara-os e cozinha-os com carinho; come-os com gosto verdadeiro, sem medo e sem culpa de ser feliz, desafiando imune o pecado da gula e da ditadura do peso. Pelo visto, não se prende a eles. É invejável! E a maneira de tratar o marido e os filhos, hein? É algo cativante. Eficiente, vai além: certos dias, no café da manhã ou no almoço, ela já antecipa a iguaria que preparou para o jantar! Babo vendo aquilo!
Minha mulher detesta cozinhar e eu aqui falando abobrinhas. A propósito delas, as comidas, revejo recorrentemente a ironia que vivemos com o hábito alimentar. Há uma fase na vida em que podemos, ansiamos e necessitamos comer, porém, falta-nos o alimento. Noutra, trabalhamos e conquistamos as condições de adquiri-lo e nos afeta condições orgânicas para comê-los! A hora, pessoal, é oportuna para maldizer os colesteróis, as glicoses, as gorduras, o diabo!
De tudo isso, contudo, resta-me consolar por não ter Nigella ao meu lado: uma mulher assim me levaria inapelavelmente a uma obesidade mórbida!
Viram como são as coisas. É forçoso reconhecer,mas, o limão também pode nos dar saborosa limonada.
No frigir dos ovos, mesmo assim boquiaberto no sofá, fico na esperança dela,--- com sua desenvoltura e elegância,--- trazer-me à boca uma sobrinha saborosa de sua atraente cozinha.
Uma sobrinha de comida, bem en-ten-di-do!
*Esta crônica, escrevi-a ouvindo Júlio Iglesias. Que tal Bamboleo?