Salgueiro chorão

Os faróis dos trens, ao chegar à cidade, incidiam sobre o salgueiro chorão,

que prateado soluçava, num espetáculo inesquecível de farta inquietação...

Desde o tempo de menina almejava em meu jardim o chorão ou a casuarina.

Lindo é seu porte, belas as suas hastes, recheadas de folhas longilíneas , que lânguidas, femininas voltam-se ao chão, porém, a superstição inibiu-me a intenção. Associei-o à... tragédia de meus amigos, precocemente expulsos da vida - ainda que o chorão não tivesse nenhuma participação, a não ser pelo balouçante espectro, que, no quintal, depois da partida dos moços em questão, altivo, subia, em sinistra exibição.

Implantou-me sua figura à memória e sobre mim cristalizou-se feito símbolo de tal história. Fato que não me permitiu concretizar o antigo desejo, ora adormecido. Em face de tal associação não cedi aos impulsos do plantio,

e, hoje em dia, a redimir-me da extrema covardia, resolvi escrever um inócuo poema cujo espécime uso agora como tema.

Salgueiro chorão

Maria da Graça Almeida

Na ilha da terra sofrida,

no fim do mundo e da vida,

humilde, olhando o chão,

triste gemia o chorão.

- Por quem choras, ó chorão,

este choro sem consolo?

Cá estou, à tua mão,

ofertando-te apoio!

- Este choro é bem antigo,

sufocado, reprimido,

pois de face para o chão,

não vejo da lua o clarão!

- Alegra-te, bom amigo,

não desprezes o que digo,

na água que te rodeia,

tão mais perto refletida,

terás linda a lua cheia!

(Quando o olho então já cego,

às visões da alma me entrego.

Aos reveses desta vida,

soluções alternativas.)