Dignidade
DIGNIDADE
Outubro é um mês significativo demais para quem trabalha em educação. È o mês em que a alegria fica mais evidente nas escolas por causa da semana das crianças e quando acontece a confraternização entre os professores, que merecidamente, têm o seu dia de festa. Eu gosto de enviar meu abraço a todos, sempre por meio de uma mensagem. Esse ano, fiquei pensando o que dizer para meus colegas de classe. Valorização virou utopia, desistimos da luta. Infelizmente, para quem trabalha no estado, nosso crescimento se dá através de paliativos, de troca de siglas e letras, que criam a ilusão que a coisa está melhorando... No final, continua tudo na mesma e a gente vai levando. Dedicação virou missão quase impossível, porque nessa profissão, as pessoas descobrem que é necessário se desdobrar sempre, em dois ou mais empregos para sobreviver. Competência... Acho que é essa a minha abordagem escolhida. Peguei o gancho ao ver o noticiário na TV onde se questionava a votação extraordinária do fenômeno Tiririca. Eu já havia me revoltado com uma manchete de jornal onde havia a previsão de que ele seria o mais votado de São Paulo. Não que eu tenha qualquer coisa contra o coitado, ou pela sua origem humilde. O problema não é o candidato. O que me revolta é a falta de visão crítica de tantos brasileiros que ainda não perceberam a seriedade do processo democrático desse país e que preferem chamar atenção votando em um palhaço, do que escolher com critério alguém que tenha uma história política digna e capacidade para realmente intervir no processo de crescimento de nossa sociedade. A pobreza da plataforma política do candidato casou-se perfeitamente com a pobreza de espírito daqueles que abraçaram as suas piadas como proposta de governo. Isso me causou vergonha. E eu fico pensando porque isso ainda acontece no Brasil. E a acho que os culpados disso somos nós, educadores. Nas nossas mãos está a responsabilidade da formação do ser humano. E acho que na formação política e social, a escola tem falhado feio. Estamos concentrando esforços apenas na questão alfabetizadora, no academicismo exagerado e os valores essenciais para o desenvolvimento de seres politizados estão ficando relegados. Não é por acaso que surgem tantas anomalias no poder, de pessoas sem escrúpulos que se aproveitam da ignorância e das oportunidades para se enriquecerem da noite para o dia. E nem é por acaso que os oportunistas estão ocupando espaço de decisão em todos os setores políticos e administrativos no Brasil. Os escrúpulos estão sendo enterrados na consciência leviana de quem não teve orientação na infância e na juventude, e que quando adultos, saem pisando em cima de tudo para alcançar seus objetivos. Hoje, foi o Tiririca, que se deu bem, mostrou que o povo realmente gosta é de pão e de circo. E para que o amanhã não nos espere com um time enorme de palhaços fazendo uma plataforma de piadas para conquistar o voto desse eleitorado inocente, é preciso que nós, professores, realmente cumpramos o nosso papel na sala de aula. Desenvolver o senso crítico e despertar a consciência política e social de nossos alunos é missão que não acontece só em vésperas de eleições: é missão para se fazer todos os dias, ensinando aos brasileiros a descobrir esse país de possibilidades que muitos ainda não conhecem e a se descobrirem como brasileiros de responsabilidade que muitos infelizmente ainda não têm. E esse papel, professor, é nosso! Haverá um dia que alguém irá enxergar isso e então a profissão professor terá o valor que merece. Até lá, vamos viver pelos menos, com dignidade.