DIPLOMACIA: O SAMBA FAZENDO ESCOLA
O samba como conhecemos atualmente, tem origem afrobaiana, temperado com misturas cariocas. Nasceu da influência de ritmos africanos, adaptados para a realidade dos escravos brasileiros e, ao longo do tempo, sofreu inúmeras transformações de caráter social, econômico e musical até atingir as características conhecidas hoje.
O gênero, descendente do lundu (canto e dança populares no Brasil do século XVIII), começou como dança de roda originária em Angola e trazida pelos escravos, principalmente para a região da Bahia. Também conhecido por umbigada ou batuque, consistia em um dançarino no centro de uma roda, que dançava ao som de palmas, coro e objetos de percussão e dava uma “umbigada” em outro companheiro da roda, convidando-o a entrar no meio do círculo.
Com a transferência, no meio do século XIX, da mão-de-obra escrava da Bahia para o Vale do Paraíba e, logo após, o declínio da produção de café e a abolição da escravatura, os negros deslocaram-se em direção à capital do país, Rio de Janeiro.
Instalados nos bairros cariocas de Gamboa e Saúde, eles dariam início à divulgação dos ritmos africanos na Corte. Eram nas casas das tias baianas, como Amélia, Ciata e Prisciliana, que aconteciam as festas de terreiro, as umbigadas e as marcações de capoeira ao som de batuques e pandeiros. Essas manifestações culturais propiciariam, consequentemente, a incorporação de características de outros gêneros cultivados na cidade, como a polca, o maxixe e o xote. O samba carioca urbano ganha a cara e os ritmos conhecidos.
Em 1917 foi gravado em disco o primeiro samba chamado “Pelo Telefone”. A música, de autoria reivindicada por Donga (Ernesto dos Santos) geraria polêmica uma vez que, naquele tempo, a composição era feita em conjunto. Essa canção, por exemplo, foi criada numa roda de partido alto (pessoas que partilhavam dos antigos conhecimentos do samba e designava música de alta qualidade) do qual também participavam Mauro de Almeida e Sinhô (José Barbosa da Silva), que se auto-intitulou “o rei do samba”.
O ritmo na Bahia está vinculado ao samba de roda executado no Recôncavo Baiano, onde sobrevive em dezenas de pequenas comunidades interioranas, sendo a principal manifestação folclórica nas datas festivas, comemorações do dia a dia ou nos batuques que animam o encontro de amigos nos botecos. Mas, esse mesmo samba que influenciou no Rio de Janeiro nas formações das escolas de samba, encontrou no meio urbano verdadeiros menestréis, como o próprio Batatinha, Riachão, Panela, Ederaldo Gentio, Edil Pacheco Gordurinha, Zé Pretinho da Bahia, Tião Motorista, Walmir Lima, Firmino de Itapuã, Chocolate da Bahia, Edson Mendes.
A generosa safra de sambistas da Bahia inclui também Assis Valente, Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Nelson Rufino, Roque Ferreira para citar alguns dos que já contribuíram para colocar o samba no patamar dos grandes ritmos musicais executados no mundo.
O samba carnavalesco baiano tem uma característica especial, pois oriundo das quadras dos blocos de índios (Apaches, Comanches, Tupys, Guaranis) influenciou no celeiro dos blocos afros (Ilê Aiyê, Olodum, Melô do Banzo, Araketu, Malê de Balê, Muzenza) derivando na batida sincopada que caracteriza o samba-reggae.
Mas as entidades carnavalescas que contribuíram para divulgar o samba já se faziam presentes na década de 60, através dos “batuques” do Bafo da Onça, Filhos do Morro, Diplomatas de Amaralina, Juventude do Garcia, Ritmo da Liberdade, Ritmistas do Samba, Filhos do Tororó, essas, escola de samba. Como blocos ou cordões carnavalescos, desfilavam o Cada Ano Sai Pior, Vai Levando, Bloco da Aurora, Fantasmas de Quintas, Come Lixo, dentre outros.
O bairro da Liberdade nos anos 60 e 70’s possuía um carnaval próprio com entidades do local e grande participação popular animada pelos blocos Deixa Disso, Os Desajustados, Barrabás, Os Estudantes, Central Samba, Filhos da Resistência, Academia 008, Turma Elegante, o irreverente “Os Protestantes”, Os Magnatas, além de grupos de mascarados e blocos de sujos.
A importância da consolidação do novo circuito oficial do Carnaval de Salvador, denominado Mãe Hilda é significante na memória cultural do bairro da Liberdade, onde a comunidade terá a oportunidade de usufruir da inclusão social com direito ao lazer numa festividade que nos tempos recentes, por conta da centralização dos seus eventos, excluiu considerável parcela da população dos bairros populares de Salvador.