Escrevemos para não sofrer?
 



 
                              Estou começando a achar que sim. A grande romancista Lygia Fagundes Telles não disse exatamente isso. Vamos ver a  frase dela: “Se você para de escrever, se torna infeliz”.
                               Alguém mais astuto vai intuir logo de cara que devo estar sofrendo. E acertou!
                               Mas tem tanto tipo de sofrimento, desde os mais bobos até os mais sérios.
                               E começo a lembrar dos meus sofrimentos de adolescente. Hoje vejo, já adulto,  como eram bons meus sofrimentos. Nessas horas, a minha maior  vontade era fugir.
                               E nunca fugi. Tenho essa frustração!  Lá na minha adolescência , quando me preparava pra fugir, sempre aparecia um colega me convidando para ir à praia, ou para ver o Flamengo à tarde no Maracanã. Naqueles tempos, era muito difícil fugir do Rio de Janeiro. O Rio, meu amigos, era mais moleque do que eu e então “caíamos na gargalhada”. O sofrimento não conseguia nos pegar...
                               Mas hoje estou sofrendo!
                               E é por isso que estou escrevendo. Não sei como vou terminar este texto e não quero decepcionar meus amigos. Fico pensando no Seminale, no Ciro. Tenho que dar a volta por cima...
                               Lá na minha adolescência, era só telefonar para o meu amigo “Fon-fon” e minha alegria voltava logo.
                               Meu Deus, tanta gente sofrendo no mundo e eu aqui “choromingando”. Não é justo!
                               Afinal,  estou escrevendo pra não sofrer
                               Mas a ideia de fugir não me sai da cabeça. Existe aqui pertinho um distrito da cidade de Miracema chamado Paraíso e o ônibus nº 10, nos leva até  lá.
                               Penso:  “Como sou afortunado! O Paraíso pertinho de mim, em quinze minutos chego lá e o ônibus é 10!”
                               Vou agora de manhã, enquanto meu pessoal dorme.
                               Converso com São Elesbão e o anjo Osvaldo e, tenho certeza, meus problemas vão sumir na  poeira.
                               E ainda chego a tempo de pegar o almoço de domingo aqui em casa. E com a cara mais lavada dos meus tempos de adolescente, se perguntado onde estava, digo que estava ajudando o padre Matheus a rezar a missa. -  Mas você nunca foi muito  religioso!  - Há tempo  pra tudo neste mundo de Deus, as melhores conversões se dão assim, de estalo, vamos almoçar que estou morto de fome! – respondo.
                               Piscando o olho para meus amigos e amigas, dou uma banana pro sofrimento e termino triunfalmente a minha crônica.
 
Gdantas