Viajando no tempo
Eu tive uma infância feliz. Tanto é que hoje, tarde de chuva gostosa, resolvi sentar ao lado de Loirinho, meu passarinho e viajar ao passado embalada pelo seu canto.
Que tempo feliz lá no sítio Santa Rita, onde tudo era plena harmonia...
A casa, grande e arejada era rodeada por uma varanda branca onde por todas as janelas se via o sol entrar.
O Chapéu de Sol, lindo e frondoso, como sempre florido , fornecendo a sua sombra acolhedora.
A cerca viva de trepadeiras e hibiscos dava um tom de alegria, e as borboletas e abelhinhas dançando por toda parte demonstravam felicidade.
Atrás da casa grande, o pomar repleto de mangueiras e jabuticabeiras, laranjeiras e sabiás formava um cenário perfeito para horas de brincadeiras.
Eu me lembro de um canto especial... era uma grande e velha mangueira de manga espada, que eu adorava subir. Tinha até entre seus galhos, uma poltrona de rainha, feita de pedaços de pinho que meu pai colocou lá com todo o cuidado para que eu pudesse dali conversar com os pássaros e ver o mundo azul.
A lagoa dos patos ficava dentro da horta, cercada por uma tela fina. Dali saiam as alfaces mais lindas que já vi.
O caminho para o curral era uma estradinha estreita margeada por galinheiros repletos de galinhas cantoras. Como eram barulhentas!!!
Quando amanhecia, cantavam para dar bom dia ao sol. À tarde, cantavam para alegrar as árvores e o gado que por ali pastava e à noitinha, cantavam para saudar a lua que estava chegando.
O leite era tirado bem cedinho. Eu ia junto com o Tide, caboclo forte e cuidadoso. Enquanto ele ordenhava, eu ficava sentada na porteira...bom, ficava mesmo era pendurada na porteira, equilibrando o copo na mão esperando a minha vez.
Que delicia!... e quanta saudade...
Mas bom mesmo era quando saia para passear a cavalo. O Baio era um cavalo negro, de pelo escovado e tinha uma franja especial. Era tão arrumadinho que parecia ter saído do melhor salão de beleza da cidade grande.
Quando o Tide trazia o Baio, prontinho para o passeio, o Rex, um vira-lata especial, inteligente como ele só, já esperava do lado de fora para nos acompanhar. E lá íamos nós. O trajeto permitido era o caminho que os colonos faziam para chegar no cafezal. Do lado esquerdo, havia um bosque lindo, mas só permitido quando tia Maria estivesse junto.
Do lado direito, havia um pomar imenso de laranjas docinhas e uma enorme figueira dobrada que parecia estar reverenciando quem por ali passava. E quando já dava para avistar o cafezal, era a hora de voltar.
Que tempo bom! Quantas lembranças boas...
Nem me dei conta de que a chuva passou. Mas o bom dessas lembranças que estão sempre muito vivas dentro de mim é que me dão a certeza de ter vivido uma infância feliz e cheia de amor.
Augusta Schimidt