PELADA, VAZANDO E COM O PEITO RALADO.
Milton Lourenço
13/10/2011
Sentado na pracinha, observo o vai e vem das pessoas e, principalmente o quanto a nossa linguagem é tão cheia de criatividade em relação aos vários grupos sociais. Entre os jovens, nem se fala, a coisa é demais. Chega a causar espanto para quem parou no tempo ou se nega a aceitar que os tempos são outros.
Quase a minha frente, um grupo de jovens comenta coisas banais de seus dia-a-dia. Uma jovem magrelinha, a mais agitada, se destacava do grupo ao reclamar de sua “intensa vida amorosa”, apesar de parecer não ter mais que 15 anos de idade, mas falava como se fosse a mais esperta de todas as garotas do bairro, dizendo:
- Se o Mané ficar de caô eu vazo. Não tô nem aí. Detesto “homem galinha” ainda mais quando ele fura comigo.
A outra com a cara cheia de maquiagem, apoiando a magrelinha, insistia.
- Isso mesmo. Demorô! Rala peito e pronto. Eu sempre disse que homem só presta pra pagar conta e carregar peso.
Um dos garotões, o de bermudão com a cueca de letrinha, até que tentou defender a classe masculina. E foi logo dizendo:
- Peraí! Não generaliza não... A mulherada gosta de homem galinha sim. A maioria até parece que é artista da Globo. Toda semana está com um namorado novo. O tal de “ficar” e “furar” já virou moda.
Por um instante fiquei observando a habilidade daqueles jovens que colocaram um sentido totalmente estranho ao real significado das palavras e imaginei como é interessante a tal gíria nossa de cada dia. Só que as duas senhoras, que também estavam próximas, ficaram sem ação. Boquiabertas.
Imagine uma jovem vazando, porque um homem galinha furou com ela. E se ela estiver no período fértil, nem um simples “sempre livre” ou qualquer outro absorvente daria jeito, nem mesmo se fosse um noturno super extra de abas duplas.
E a de maquiagem na cara, que achava que homem era guindaste para carregar peso... Se ralasse o peito logo ali na praça, demoraria ser atendida no P.U. já que a ambulância, como sempre, estava quebrada.
Imaginações a parte, entendi o sentido daquelas palavras, mas as duas senhoras, já totalmente horrorizadas com o diálogo, foram a loucura quando o rapazinho de cabelo moicano resolveu defender o Mané do caô. E como advogado de causas quase perdidas diz:
- Vocês tão zoando o cara à toa. Foi só uma pelada no CIEP com a galera, por isso que ele “furou” contigo.
Pronto. Foi a gota d’água para as senhoras que pararam no tempo. Elas não entendiam as gírias e nem aceitavam esses jovens. Com certeza, no tempo delas as mocinhas não vazavam, não ralavam o peito em qualquer lugar nem furavam com qualquer um. E, principalmente, só ficavam peladas entre quatro paredes. A coisa era bem mais escondida.
- Esse mundo está mesmo perdido. E ainda dizem que eles são o futuro do Brasil. Onde já se viu um homem galinha ser futuro de alguma coisa. Que futuro!
- Henriqueta você tem razão, no nosso tempo até o cabelo dos rapazinhos eram mais arrumadinhos. Agora, além de homens galinhas, eles usam o cabelo como se fossem uns “galinhos da serra”.
Criticavam as velhas senhoras, como se fossem umas santas, mas umas santas que, no tempo delas também se derretiam todas quando viam um jovem com muita brilhantina no topete passando numa “lambreta” a mais de 30 km por hora. Para elas, aquilo sim que era beleza masculina e potência de máquina. E sem furar nada.
E pensar que as mães dessas senhoras falavam as mesmas coisas que hoje elas falam. O tempo passa e os costumes também. Já é! Tá ligado?