Crônica de 12 de outubro (VI). O Cristo Redentor
Crônica de 12 de outubro (VI) - o Cristo Redentor
Completam-se 80 anos da inauguração da estátua do Cristo Redentor, do Rio de Janeiro, que, desde a sua inauguração, reina imponente sobre as cercanias da baia da Guanabara. A imensa estátua foi tombada como patrimônio cultural da humanidade.
Sua construção foi certamente um prodígio, naqueles tempos em que o Rio era uma capital de república cercada de fazendas e costumes rurais por todos os lados. Em certo sentido, sua construção, tal como aconteceu com a torre Eiffel, era um marco indicativo para o futuro do país, em termos de progresso e riqueza.
O que chama à atenção na estátua do Cristo Redentor é justamente sua estética, a feição da imagem que reproduz um crucifixo, as linhas retas e econômicas que lhe dão um ar sempre atual e enxuto, o rosto firme e sereno do Salvador, cujo abraço se expande no espaço e abraça toda uma nação, pontuada pela incrustação de um coração sobre o peito – à moda do que ocorre com a suástica nas estátuas do Buda, indicando alguma concessão ao pieguismo em desfavor da simbologia, constituindo-se de qualquer forma, num traço da personalidade da nação – que, de qualquer forma, faz muitas e indesejáveis concessões em diversos planos, levado pela razão momentânea, em desfavor da razão e do futuro.
Enfim, o Cristo estabelecido sobre o morro da Urca (no meio de uma paisagem estonteante), com seu rosto firme, sereno e curvado – indicando que seu olhar alcança a cidade abaixo e além - não é só o Redentor. É carioca e brasileiro!
Na Polônia, também ergueram uma estátua ciclópica de um Cristo Coroado, que suplanta, em tamanho, o Redentor. Pelas fotos que vi, ela foi erguida sobre uma colina vistosa, mas sem graça. E a estátua em questão, ao contrário da outra, me parece carente de carisma, no sentido de caráter e beleza estética, o que, convenhamos, discretamente sobre na sua ciclópica predecessora.
Há muito de curiosidades, histórias e polêmicas ligadas ao Cristo Redentor - desde o nome como era chamado originalmente o lugar - "Pináculo da Tentação", o malogro da operação de inauguração por um sinal de rádio emitido pelo seu inventor, Marconi, que viajaria do continente europeu até o continente americano, a polêmica a disputa em torno da propriedade da imagem da estátua travada entre os herdeiros da família do arquiteto Heitor Costa e a família do escultor Paul Maximilian Landowiski, a perda de traços de sombrancelha, lábio e dedos por causa de raios, os dois corações (um externo, em alto relevo e outro interno, esculpido) e, por aí, vai.
Existe uma miríade de citações da famosa imagem do Corcovado nas mais diversas formas de mídia - filmes, músicas, livros etc. E entre estas, é impossível lembrar das sublimes impressões e imagens impostas por Tom Jobimem clássicos como Samba do avião (na haicaística citação: "Cristo Redentor / braços abertos / sobre a Guanabara") e a cinematográfica Corcovado (Da janela/ vê-se o Corvado/ O Redentor, que lindo!).
Tudo isto só aumenta o interesse pela imagem colossal, e cujo magnetismo arrasta multidões de turistas diariamente à sua base, para visita e as fotos - inclusive a famosa foto dos braços abertos, que imita a posição do imenso e belo Cristo (à parte o inevitável e largo sorriso, que o acompanha).
Em breve, dois eventos vão eventos vão colocar a imagem do Brasil na ordem do dia - a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. E neste momento em que vemos a comunicação sendo realizada, mais e mais, através de imagens, a figura do Cristo Redentor, não há dúvida, se converterá num privilegiado símbolo de impressão do país.