Ano-Velho, adeus!


             Um dia, assim versejou Drummond: "O último dia do ano/ não é o último dia do tempo."  Foi no poema Passagem do Ano.
             Aconselho sua leitura; e até dá-lo de presente a um amigo do peito; ele ficará felicíssimo.

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              Depois de publicar Meu bom São Nicolau, achei que não conseguiria escrever mais nada, neste fim de ano; a não ser pequenos textos, agradecendo as carinhosas mensagens de "Boas Festas!" que recebi; inclusive de gente que só me conhece através de minhas inexpressivas crônicas, hospedadas no meu site.

              Algumas dessas mensagens trouxeram rasgados elogios à minha crônica natalina. Permitiram-me constatar, que alguém, além deste provecto escriba, também acredita que o bom velhinho existe...

             Outras mensagens pediam-me uma crônica sobre o presépio; ou sobre a missa do galo; ou sobre - incrível! - o peru de Natal. 
             Prometi aos gentis internautas discorrer sobre os três interessantes assuntos no Natal de 2007, que espero seja tranqüilo, como está sendo o de 2006, ao lado de Ivone. Este ano, estamos sós: os filhos, netos e noras não pintaram em Salvador.

             Sobre a missa do galo, apenas adiantei aos signatários das delicadas mensagens, que gostava mais quando ela era rezada à meia-noite. 
              Por causa da violência urbana, a missa do galo é  hoje celebrada mais cedo. Se a igreja fica nas proximidades da carioca Linha Vermelha, acho que nem missa do galo tem mais.

             Sobre o presépio, disse que não seria difícil escrever sobre ele. Buscaria, em São Francisco de Assis, a necessária inspiração.  Lembrando, que ao santo seráfico se atribui a montagem do primeiro presépio, no ano de 1223, em Greccio, pequenina cidade italiana.

              Sobre o peru. Recordaria o Natal em família. A reza. E  a ceia:  em torno da mesa farta, toalha bordada, a parentela reunida, e de olhos voltados para o peru, a principal guloseima da noite feliz.  
              Depois  de um bom vinho, a troca de presentes e de abraços, "todos alagados de felicidade", como disse Mário de Andrade, na sua crônica O Peru de Natal.

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               Mas quem gosta de escrever, não deixa para amanhã o que pode escrever hoje. Também não pode garantir que sustou, ainda que temporariamente, o contato com sua máquina de escrever ou com o seu computador.

               Por isto, aqui estou, para dizer: Ano-Velho, adeus!

               Pouco se festeja o ano velho. Há um consenso, no sentido de que se deva esquecê-lo o mais rápido possivel. O negócio é cantar, com foguetório e champanha, o ano novo.

               Venho repetindo, que o ano velho não é feito somente de desencantos e decepções, a ponto de mandá-lo pro inferno, mal o 31 de dezembro desaparece das folhinhas.   Ele também é feito de momentos inesquecíveis... Não sejamos, pois, injustos com o ano que passou...

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                Eu, particularmente, não tenho por que xingar 2006.  Se não acertei na Mega-sena, também não tomei dinheiro emprestado aos bancos  e nem aos amigos. 
                Se não ganhei mundos e fundos, não perdi nada: permaneci com as colunas do "Deve" e do "Haver" rigorosamente equilibradas.

                Não precisei acionar meu Plano de Saúde, para alegria do Bradesco e tristeza dos hospitais. 
                Fui, sim, muitas vezes às farmácias; mas, ao mesmo tempo, freqüentei, com regularidade e desenvoltura, os supermercados, livrarias, praias e shoppings. 

                Visitei os netos quando bem quis; e sem ser massacrado nos aeroportos: os aviões que apanhei para ir vê-los saíram e chagaram nos horários previstos. 
               Até aproveito, para desejar um "Feliz Ano-Novo!" aos controladores dos vôos entre Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Foram legais comigo.

               E, de quebra, ainda dei um pulinho na Argentina, com direito a tomar um bom vinho tinto, com Ivone, no alto das montanhas geladas de Bariloche. 

               Me queixar de quê? Esquecer 2006, com rapidez, por quê?

               Se tiver algo a lamentar, será, sem dúvida, a morte do Braguinha, ocorrida na véspera do Natal. Se foi o criador de Pastorinhas, Chiquita bacana, Touradas em Madrid, Carinhoso e de Copacabana, que Dick Farney imortalizou, com sua inconfundível voz.  
                É, estão indo os meus ídolos...

                Aplaudindo o ano velho, entrarei em 2007 recitando Drummond: "O último dia do ano/ não é o último dia do tempo. / Outros dias virão/ e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida." E muito feliz
               
 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 25/12/2006
Reeditado em 03/02/2008
Código do texto: T327470