Crônica de 12 de Outubro (II). Falando do descobrimento da América.
Crônica de 12 de Outubro (II) - Falando do descobrimento da América.
12 de outubro: dia do descobrimento da América, por Colombo e sua intrépida tripulação, que, talvez num dia ensolarado e de grandes nuvens brancas no céu como é este, aportou numa ilha caribenha, movendo com destreza e muita vontade o pesado mecanismo de cordas da história, iniciando um período que levaria o mundo a um período sem precedentes – em termos de avanço político, econômico e, tecnológico que, séculos depois, traria um período de prosperidade e conforto material jamais vivido pela humanidade, antes.
O chamado descobrimento da América (isto é, a tomada do conhecimento de sua existência, depois de sua ocupação original – que, por sua vez, é objeto de outras e intensas discussões, como atesta o crânio de “Luzia”, o crânio pré-histórico de uma mulher de tipologia negra, achado em Minas Gerais, que teria vivido na região, cerca de 15.000 anos atrás) é hoje objeto de interessante debate e controvérsia, sendo aventadas as mais diferentes hipóteses quanto à sua primazia, havendo quem afirme que, antes de Colombo, a América havia sido objeto de exploração de nórdicos, chineses e até, egípcios.
Entre estes, os chineses levam vantagem no sentido de que possuíam, além da impressionante marinha, uma variada e precisa tecnologia de construção naval e navegação, do que resultou a produção de incrível cartografia, que, em algumas peças, parecem retratar perfeitamente a costa leste do continente americano (em certa carta, dom Pero Gandavo, navegador português que..., suplicava a El Rei: “...manda vir aquele mapa!”, parecendo que aludiar, no contexto da correspondência, a alguma carta marítima produzida fora da Europa).
Mas, foi Colombo, o europeu que veio para descobrir. E descobriu. E voltou e ficou. E definhou, até morrer numa ilha da Martinica – perdido entre os problemas decorrentes da ocupação do território que solicitou para si, as implicâncias do exercício do poder e seus sonhos de glória.
À diferença de outros povos civilizados (ou quase) que tiveram conhecimento da existência do continente americano, os europeus tinham um propósito a respeito e, montaram sociedades e empresas para chegar, ocupar e explorar as suas riquezas, tendo resultado tal iniciativa na mola mestra de acumulação de riquezas que acabou financiando a revolução industrial europeia.
Cabral, porém, não tinha tal alternativa, fim ou privilégio. Ele cumpria missão real. Encontrou terras ao sul do continente americano a mando do rei português, ergueu marco comprobatório de sua passagem, registrou tudo e, mandou rezar missa. Mas depois disso, como se podia deduzir do número de naus de sua frota (13), se mandou paras as Índias Orientais, em busca de coisas que faziam os olhos dos portugueses brilharem intensamente: as chamadas “especiarias”, mercadorias de altíssimo retorno financeiro, que cobririam com folga, o custo da jornada estabelecida, para si e para a coroa portuguesa, já que a terra descoberta poderia lhe render, em curto prazo, apenas o tédio da convivência com silvícolas – gente de cultura desconhecida e um modo de viver exótico e primitivo, nem um pouco palpitante, para um homem da Corte.
Com efeito, disto não destacam com clareza os livros didáticos de história: Cabral, o descobridor das terras cuja produção aurífera permitiria a reconstrução da Lisboa – destruída por um terrível terremoto e, por vias transversas, boa parte da revolução industrial ocorrida em Londres - ao contrário de Colombo, cumpriu missão real, ao descobrir a porção sul do continente americano e não manifestava qualquer interesse pessoal e objetivo pela terra que descobriu. Seu negócio era o mar, a aventura da mercancia intercontinental e o lucro decorrente e, claro, privilégios da coroa portuguesa.
Mas, ninguém põe em dúvida a coragem de Colombo e Cabral. Atravessar o Atlântico com os barcos e tecnologia de navegação de que dispunham era mesmo coisa de cabra habilidoso, tenaz e, corajoso, motivo pelo qual, suas jornadas e descobertas foram, à parte história, um feito de natureza heroica.
As caravelas usadas por Cabral parecem um tanto estranhas, meio quadradonas, aparentemente destituídas de forma bem adequada ao vencimento da força das águas e aproveitamento de ventos, se comparados com os impressionantes navios chineses existentes à época. Mas, o caso é que venciam com extraordinária competência as distâncias e desafios das viagens continentais – e, via de regra, voltavam ao porto abarrotadas de mercadorias.
Para ocupar a já chamada terra de Santa Cruz, à falta de capitais e diante do desafio (que implicava na fixação de contingente humano na costa americana), os portugueses implantaram o sistema de capitanias na costa oeste do continente sulamericano – cujos forais concediam extensões de terras era comparáveis ou maiores que o território dos países europeus.
O que sempre me chamou à atenção neste sistema foi o engenho formal e informal estabelecido, cujos feixes de forças centrípetas, com decisões políticas emanadas de um longínquo continente, associadas com a atuação do governo local, que era realmente admirável, no sentido de superação dos desafios existentes - começando pela vastidão do território e da costa - e suficiência, para impedir que as capitanias, verdadeiros centros de poder local, viessem a ser ocupadas definitivamente por forças e governos concorrentes na expansão ultramarina ou, que evoluíssem para auto-organização política e enfim, distintos Estados.
E a existência de tais estruturas de organização produtiva refletem até hoje na história do Brasil, cuja federeção se estabeleceu e vive sob a força centrípeta da União Federal, que tem alguma relação com o mesmo fenômemo, do tempo das capitanias.
Disto resultam as mais diversas distorções - e o exemplo mais claro e a constante romaria de governadores (em verdade, pouco mais do que presidentes de província) e municípios, rumo a Brasília de pires na mão, em busca de recursos que deveriam ser arrecadados por suas unidades federativas...