Crônica de 12 de outubro (I). Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil.
Crônica de 12 de outubro - Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil.
12 de Outubro. Feriado e dia santo para os católicos, consagrado a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. O culto da santa começou no interior de São Paulo, depois que uma imagem de Maria foi achada no leito de um rio, por pescadores – algo parecido com o que ocorreu em Trindade – GO, com uma medalha de argila, com a representação da Santíssima Trindade. Aparecida do Norte – SP, virou o centro da fé católica brasileira, onde se ergue impressionante basílica, que vem a ser o maior templo da fé cristã, no país (mas, que, deve ser suplantada em algumas décadas pela basílica do Divino Pai Eterno, que será construída em Trindade- GO).
Por conta da importância do dia santo e da santa, o dia a ela consagrado virou feriado, num país, cuja maioria folgada era composta de católicos.
A imagem de Nossa Senhora foi encontrada no rio Pirapora era escura, como acontecia a imagens semelhantes, mundo afora. Os estudiosos de simbologia costumam classificar tais imagens de “virgens negras”, que remeteriam à ancestral figura de Astarte, deusa babilônica da agricultura e da fertilidade.
A Igreja Católica brasileira, a par da sua milenar experiência e prática, acolheu a livre associação popular da imagem, que associava sua cor ao processo de formação e miscigenação do povo brasileiro, sendo em muitas ocasiões e cultos públicos por padres e autoridades católicas de ”rainha e mãe negra do Brasil”, sob intenso aplauso dos fiéis.
Sobre o feriado, impossível não registrar que, na medida em que a fé evangélica avança, nas suas mais diversas variantes, vão crescendo os muxoxos e reparos em torno do feriado dedicado a Nossa Senhora Aparecida. Às vezes, a crítica é discreta. Outras vezes, nem tanto. E a impressão que tenho é que, mais dia, menos dia, vira quizila de natureza judicial ou política, como aconteceu com a (primeira) tentativa de remoção de símbolos religiosos de repartições públicas – quando lideranças evangélicas alegaram numa ação judicial que a simbologia era católica e, significava, de consequência, um desafio ao laicismo do Estado.
O juiz encarregado do feito, porém, sentenciou que a utilização de símbolos tinha origem histórica e cultural enraizada e, eram, de qualquer forma, símbolos cristãos que, de forma de forma alguma, podiam indicar prática contrária ao Estado laico, que está estabelecido na Constituição. E a coisa sossegou, embora não tenha ficado, à evidência, totalmente resolvida, pois não são poucos, os projetos de lei tramitando no Congresso Nacional, tratando da matéria...
Pois é, o Cristianismo impõe uma imagem solar – isto é, unipolar, masculina, e avassaladora da Divindade. Mas, como em muitas outras ocasiões e lugares, a fé popular, por seus próprios meios e formas, acaba restabelecendo sua dualidade fértil, reconstituinte e apaziguadora. O que indica haver uma sabedoria e força imanente, anterior e posterior ao formalismo religioso, que é capaz de suplantar e conformar até o cerne institucional das religiões, diante do que atuam as forças modais da hierarquia e sabedoria religiosa. Mas, para por aqui, porque o assunto não é de fácil discussão e o tempo anda complicado para discussões desta natureza.