DESCONFORTO ESPIRITUAL



Tem sempre aquele dia que você vai rever pessoas da família. Uma ou outra casa parece cada vez mais vazia. No entanto o doce respeito à saudade coloca luzes sobre a mesa e esta ilumina o ambiente. Você até volta para casa pensando nos casos que ouviu em lares mais felizes ou mais descontraídos e por isso mais ricos. Volta e meia você acelera, mas não mais do que devia. Volta a pensar na vida dos que possuem o coração furado, meio amargo, mas sem fazer bem para a saúde ou para os que o rodeiam. Males da ignorância, talvez. Então você se coloca na posição de perdoar e esquecer mágoas banais. O chão da estrada aumenta e elas ficam para trás. Muitas horas adiante você visita uma irmã e percebe que ela está mais debilitada. Parece que enxerga cada vez menos e você sente pena. Sente pena da velhice tão precoce enquanto ela sorri por lhe ver ou segura o choro pelo que não pode fazer. Um pouco em seguida a leva para um passeio. Antes a presenteia com uma sandália que ela corre e coloca nos pés. O passeio poderia ter sido mais longo, mas pareceu bonito o bastante e suficiente para colocar conversa em dia. Despedem-se e você deixa a promessa de voltar mais vezes. Vai com a sensação que devia ficar mais tempo, mas a noite a acompanhará por toda a longa estrada brasileira da morte, BR 381. – Fica com Deus! – Vá com Deus! Ela sabe que é preciso partir. – Pode deixar que eu volto sim! Parte levando o desconforto de não saber se fez muito ou pouco. Torce para que aconteçam mais dias.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 13/10/2011
Reeditado em 13/10/2011
Código do texto: T3273773
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