Para maiores de setenta
Todos que prestaram serviço militar obrigatório e aqueles que são militares por opção conhecem a expressão : antiguidade é posto. Ou seja, quanto mais tempo maior é a hierarquia na carreira militar.
Se trouxermos esse critério da caserna e a reduzirmos aos termos do viver, poderíamos concluir: quanto mais velhos maiores nossas regalias, liberdades e intimidades. Aliás, o passe livre e a preferência para atendimento prevista na legislação vigente é prova de que essa conclusão já chegou, até mesmo, nas plenárias do nosso Congresso.
Sem perder a oportunidade de criticar a aplicação das leis, essa preferência de atendimento aos velhinhos não é bem praticada. Observem bem e vejam como somos nós os velhinhos os que mais demoram nas filas.
Dentro dessa sabedoria, todos aqueles, por serem maiores de setenta podem e devem:
iniciar bate-papo em qualquer situação independentemente de credo, raça, sexo, faixa etária e outros atributos, como se fossem velhos conhecidos;
nas filas de atendimento, retirar os dois tipos de senha (atendimento prioritário e o normal), para que a legislação seja devidamente cumprida;
expressar seus pensamentos e sentimentos, em prosa, verso, melodia e divulgá-los em sítios do tipo “Recanto das Letras”;
cochilar o quanto quiser num banco de praça, parque ou jardim, desde que não tenha pertences de valor;
convidar alguém para dançar, ou dançar sozinho em locais públicos com boa música ambiente;
ao identificar e sensibilizar-se pela beleza de qualquer outro da mesma espécie, expresse seu encantamento, sem pudor, diretamente ao possuidor do atributo;
nos parques , praças e jardins oferecer-se como voluntário para: prestar informações, bater fotos para que todos estejam presentes no registro daquele momento; segurar pipas para facilitar crianças colocarem-nas no ar; organizar e apitar peladas da gurizada; enfim participar da festa;
entrar nas bibliotecas e até mesmo em livrarias, ou parar em bancas de jornaleiros, para leituras que aprecie;
estar sempre bem informado sobre as programações culturais sem custos;
cumprimentar os passantes de forma ampla, geral e irrestrita;
gargalhar como os joãos –de-barro, fazer algazarras como as maritacas e quando lamentar-se, que seja com a ternura do tico-tico;
extasiar-se com a graça e pureza dos bebês; e
ouvir o canto das estrelas, a melodia de outros astros e o ritmo das estações.
Caso tenhas argumentado das dificuldades pelas restrições físicas é de bom alvitre reconhecer, que tens, em compensação, o melhor momento de tua mente. Além disso, como tudo é mental nunca estiveste em tão melhor forma para a vida.
Maiores de setenta, aproveitemos a festa da vida. Nesse salão planetário dancemos a parte do baile que nos resta.
Celebremos o ocaso a que fazemos jus. Preparemo-nos para o novo alvorecer...