Acordos de campanha
Acordos de campanha
Recentemente, vi um manifesto na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, onde centenas de vassouras verdes e amarelas protestavam contra a corrupção na política brasileira. A idéia não é nova. Janio Quadros, lá pelos anos 60 também lançou sua campanha para presidente usando a vassoura como símbolo. Protestos assim já não causam impacto nesse país. Quem teve lucro com isso foram os fabricantes das vassouras, que faturaram mais que o costume. Nossos políticos já perderam o brio de tanto ouvirem denúncias que no final, não dão em nada. Em época de campanha, o povo esquece, vota de novo nas mesmas pessoas que nos fazem sentir vergonha em tê-las como nossos representantes. Exemplo disso é o ex-presidente Fernando Collor, que o povo saiu às ruas para tirá-lo do poder, saiu enxovalhado do Palácio do Planalto e hoje lá está de novo, eleito pelo mesmo povo, que quase o crucificou. E assim como ele, são muitos que desviaram verbas, fizeram falcatruas, entraram na política com uma mão na frente e outra atrás e hoje são donos de riquezas incalculáveis, que nem se houvessem tido mil mandatos, teriam acumulado tantas fortunas. Mas eles não são os únicos culpados. A corrupção não existe apenas no cenário político, na Câmara, nos gabinetes de deputados ou nas salas de prefeitos. A coisa começa quando os caras já pensam em candidatura. Nem bem as campanhas estão lançadas e lá já estão os corruptores, donos de empreiteiras e empresas que fornecem produtos e oferecem serviços para o serviço público. O que é público parece que não tem dono, é de quem conseguir embolsar mais. Não iremos resolver o problema da corrupção apenas afastando políticos e bancando CPI’s todos os dias. O que precisa ser feito é a politização do povo brasileiro, para que tomem consciência de que todos temos culpa pelos absurdos praticados na política brasileira, porque cruzamos os braços para a lei que mais vigora nesse país: a lei da maior vantagem. Se um político é eleito, logo aqueles que estão mais próximos querem usufruir de alguma forma dos privilégios que a política pode oferecer. Enquanto candidato, todos se colocam à disposição do povo. Mas quando eleitos, só leva vantagem aquele firmou acordos, doou recursos, justamente porque vai cobrar o troco. Essa é a política assistencialista do Brasil que tem que acabar, porque os governantes tem que trabalhar para o município, o estado ou o Brasil inteiro, naquilo que for prioridade e não ficar prisioneiro nas mãos dos poucos que lhe deram apoio para bancar campanhas. Essa barganha de cargos e de favores deveria ser crime, combatido com a consciência de que os direitos da vida cidadã são para todos e não apenas para alguns. Então, se tivermos que ter vassouras para varrer as sujeiras da corrupção, que as tenhamos cada um em sua casa, na sua rua, no seu bairro e não apenas no Congresso Brasileiro, pois muitos que lá estão são vítimas de um processo legitimado de venda de favorecimento durante as campanhas, que se sentem muito à vontade para pagar, porque quem banca a conta somos nós, idiotas dando o sangue para ganhar o salário minguado, de onde brota a maior fonte de impostos no mundo para cobrir os acordos vergonhosos dessa política podre de favorecimento, vendilhões visando enriquecimento rápido, usando a boa fé de um povo sedento de justiça e dignidade, que nem sempre tem noção de seus direitos enquanto cidadão. Por isso, muitas vezes votam em nome de gratidão.