A OUTRA

Afinal de quem é a culpa? Um romance a três, nunca dá certo, mas se é assim é porque algo falta, o amor ainda não aconteceu de verdade.

Não há culpados, há imaturidades e muitas carências, há que se perdoar, há que se compreender.

A outra é sempre a que se permite as migalhas do afeto alheio, fica sempre escondida nas camas dos motéis, ou nas segundas feiras da vida.

Com a outra ele faz de tudo, com a outra ele conta tudo, com a outra ele até se permite amar, mas logo esquece, porque a outra é a vadia, é a perdida, a sem nome de família, a que não se enquadra nas regras sociais da podre classe média. Mas é a outra que sabe oferecer o prazer total, é com ela que se corre todos os riscos de perdas.

A outra é mais forte, porque nunca tem nada para perder. E mais vadia, não se deixa esquecer. A outra é mais fraca porque o espera no tempo a se perder, até envelhecer.

Morre sozinha, lembrando do amado, que nunca a escolheu, que nunca a respeitou, que nunca a amou de verdade, que nunca a mereceu, mas que também nunca a esqueceu.

Ele morre acompanhado de alguém que nunca sentiu o sabor de ser a outra, apenas por um instante, alguém que o teve, e nunca o conheceu como a outra. Alguém que sofreu, e sonhou o tempo inteiro

em ser a outra para o seu homem. Tudo termina com a dor dos envolvidos, que sentiram o prazer do sexo, mas nunca se permitiram

a alegria do afeto, pura e simplesmente.

Nesse jogo a três, não há vencedores. Todos são perdedores. Porque o amor só acontece a dois, não há espaço para outros, não há brigas. Só o amor, sem o menor perigo de interferência. Quem tem problemas com a outra, é certo que seu amor é imaturo e faz sofrer.

As vezes a outra ocupa o lugar da esposa, e triste constata que

a maldição recomeça...

Glória Cris
Enviado por Glória Cris em 12/10/2011
Reeditado em 10/12/2011
Código do texto: T3271597
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