Minhas Músicas Inesquecíveis_8_Assum Preto (Luiz Gonzaga)
Para encerrar essa série "Minhas Músicas Inesquecíveis" - aquelas que me foram companheiras da infância, adolescência e juventude - nada melhor do que homenagear uma figura que, nordestino de nascimento e de alma, tanto quanto eu, tornou inesquecíveis as minhas festas juninas: Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Luiz Gonzaga do Nascimento (Exu, 13 de dezembro de 1912 — Recife, 2 de agosto de 1989), foi uma das mais completas e inventivas figuras da música popular brasileira. Cantando acompanhado de sua sanfona, zabumba e triângulo, levou a alegria das festas juninas e dos forrós pé-de-serra, bem como a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o sertão nordestino, para o resto do país, numa época em que a maioria das pessoas desconhecia o baião, o xote e o xaxado. Entre muitas, o genial instrumentista e sofisticado inventor de melodia e harmonias, ganhou notoriedade com as antológicas canções Baião (1946), Asa Branca (1947), Siridó (1948), Juazeiro (1948), Qui Nem Giló (1949) e Baião de Dois (1950).
Asa Branca é considerada, ao lado de Garota de Ipanema, uma das músicas brasileiras mais conhecidas e mais ouvidas no mundo inteiro. Contudo, para o meu gosto de poeta e de eterno romântico, nenhuma música de Luiz Gonzaga, pelo conjunto de letra e melodia, supera o quase pungente lirismo amoroso de Assum Preto.
Antigamente, no sertão brasileiro, uma prática das mais cruéis levava alguns criadores de pássaros cantores a furarem os olhos das aves para que supostamente cantassem melhor; não cantavam melhor, mas sim, mais dolorosamente inspirados, sons emitidos pelas gargantas de suas almas sofredoras, os quais, para os ouvidos dos seus cruéis donos, soavam bem mais maviosos: "Mas Assum Preto, cego dos óio/Num vendo a luz, ai, canta de dor /Tarvez por ignorança/Ou mardade das pió/Furaro os óio do Assum Preto /Pra ele assim, ai, cantá mió ." Há, no entanto, uma verdade psicoemocional contida nessa absurda prática e que sempre se manifesta nas obras dos artistas: sem fazer apologia ao masoquismo, é fato incontestável que o sofrimento os torna mais criativos e inspirados.
Para quem gosta de extrair o romantismo da mais dramática ou da mais trivial das situações, como é o meu caso, não há como resistir à idéia de comparar a situação do assum preto, que prefere a gaiola sem cegueira à liberdade cega, com a temática poética de que é preferível a prisão do amor à liberdade da solidão:"Assum Preto veve sorto/Mas num pode avuá/Mil vez a sina de uma gaiola/ Desde que o céu, ai, pudesse oiá."
Mas é nos quatro versos finais, que o lirismo amoroso do poeta-autor da canção, provavelmente o Humberto Martins, pontifica soberano, revelando qual foi a sua intenção poética ao resgatar, na canção, o sofrimento do assum preto cego: ele, o poeta, também canta triste, porque é cego, já que um dia lhe roubaram o seu amor - e esse amor era a luz dos seus olhos...:"Assum Preto, o meu cantar/É tão triste como o teu/Também roubaro o meu amor/Que era a luz, ai, dos óios meus ."
Para o deleite literário e musical dos meus amigos e amigas - que ainda gostam do que é bom e belo - repasso a letra completa e a melodia desta joia da MPB: Assum Preto.
ASSUM PRETO
(Humberto Martins e Luiz Gonzaga, 1950)
Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá mió (bis)
Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)
Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus (bis)
NOTA DO AUTOR:
Foi incluída nesta edição, a reprodução da música "Assum Preto" , gravada em 1950, de autoria de Humberto Martins e cantada por Luiz Gonzaga. Contudo, devido à política editorial do Recanto das Letras, as músicas só podem ser reproduzidas no Site do Escritor; caso você esteja visualizando esta página apenas no Recanto das Letras e queira ouvir a música incluída, use o link de controle abaixo para ser redirecionado ao Site do Escritor:
http://antoniomaria.prosaeverso.net/visualizar.php?idt=3270956
Para encerrar essa série "Minhas Músicas Inesquecíveis" - aquelas que me foram companheiras da infância, adolescência e juventude - nada melhor do que homenagear uma figura que, nordestino de nascimento e de alma, tanto quanto eu, tornou inesquecíveis as minhas festas juninas: Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Luiz Gonzaga do Nascimento (Exu, 13 de dezembro de 1912 — Recife, 2 de agosto de 1989), foi uma das mais completas e inventivas figuras da música popular brasileira. Cantando acompanhado de sua sanfona, zabumba e triângulo, levou a alegria das festas juninas e dos forrós pé-de-serra, bem como a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o sertão nordestino, para o resto do país, numa época em que a maioria das pessoas desconhecia o baião, o xote e o xaxado. Entre muitas, o genial instrumentista e sofisticado inventor de melodia e harmonias, ganhou notoriedade com as antológicas canções Baião (1946), Asa Branca (1947), Siridó (1948), Juazeiro (1948), Qui Nem Giló (1949) e Baião de Dois (1950).
Asa Branca é considerada, ao lado de Garota de Ipanema, uma das músicas brasileiras mais conhecidas e mais ouvidas no mundo inteiro. Contudo, para o meu gosto de poeta e de eterno romântico, nenhuma música de Luiz Gonzaga, pelo conjunto de letra e melodia, supera o quase pungente lirismo amoroso de Assum Preto.
Antigamente, no sertão brasileiro, uma prática das mais cruéis levava alguns criadores de pássaros cantores a furarem os olhos das aves para que supostamente cantassem melhor; não cantavam melhor, mas sim, mais dolorosamente inspirados, sons emitidos pelas gargantas de suas almas sofredoras, os quais, para os ouvidos dos seus cruéis donos, soavam bem mais maviosos: "Mas Assum Preto, cego dos óio/Num vendo a luz, ai, canta de dor /Tarvez por ignorança/Ou mardade das pió/Furaro os óio do Assum Preto /Pra ele assim, ai, cantá mió ." Há, no entanto, uma verdade psicoemocional contida nessa absurda prática e que sempre se manifesta nas obras dos artistas: sem fazer apologia ao masoquismo, é fato incontestável que o sofrimento os torna mais criativos e inspirados.
Para quem gosta de extrair o romantismo da mais dramática ou da mais trivial das situações, como é o meu caso, não há como resistir à idéia de comparar a situação do assum preto, que prefere a gaiola sem cegueira à liberdade cega, com a temática poética de que é preferível a prisão do amor à liberdade da solidão:"Assum Preto veve sorto/Mas num pode avuá/Mil vez a sina de uma gaiola/ Desde que o céu, ai, pudesse oiá."
Mas é nos quatro versos finais, que o lirismo amoroso do poeta-autor da canção, provavelmente o Humberto Martins, pontifica soberano, revelando qual foi a sua intenção poética ao resgatar, na canção, o sofrimento do assum preto cego: ele, o poeta, também canta triste, porque é cego, já que um dia lhe roubaram o seu amor - e esse amor era a luz dos seus olhos...:"Assum Preto, o meu cantar/É tão triste como o teu/Também roubaro o meu amor/Que era a luz, ai, dos óios meus ."
Para o deleite literário e musical dos meus amigos e amigas - que ainda gostam do que é bom e belo - repasso a letra completa e a melodia desta joia da MPB: Assum Preto.
ASSUM PRETO
(Humberto Martins e Luiz Gonzaga, 1950)
Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá mió (bis)
Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)
Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus (bis)
NOTA DO AUTOR:
Foi incluída nesta edição, a reprodução da música "Assum Preto" , gravada em 1950, de autoria de Humberto Martins e cantada por Luiz Gonzaga. Contudo, devido à política editorial do Recanto das Letras, as músicas só podem ser reproduzidas no Site do Escritor; caso você esteja visualizando esta página apenas no Recanto das Letras e queira ouvir a música incluída, use o link de controle abaixo para ser redirecionado ao Site do Escritor:
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