A GENTILEZA ANDA LENTA

Todo dia vê-se notícias de acidentes de trânsito que chocam. ‘Um rapaz de dezenove anos, dirigindo bêbado, num carro de não sei quantos mil, atropela uma série de pessoas. Os pais pagam trezentos mil para ele responder o processo em liberdade’. ‘Um engenheiro que dirigia seu Porsche a 150km/h bate num Tucson e mata a jovem motorista de vinte e seis anos’. E as ocorrências seguem.

Não sei porque as campanhas de trânsito aqui no Brasil, que tem sido intensas, não fazem efeito na consciência de certas pessoas. É tão simples dirigir com prudência, dentro da lei e principalmente, com gentileza. Esta, então, anda a passos de formiga e sem vontade, tanto nas cidades como nas rodovias.

Na Europa e em algumas cidades aqui do Brasil, Brasília é um exemplo, a preferência nas faixas de segurança é sempre do pedestre. Tentou-se implantar este costume aqui em Porto Alegre. Não pegou. Foi um horror! Os motoristas xingavam os pedestres e estes palavreavam feio com os motoristas. Alguns dias atrás, eu dirigia numa rua aqui da capital. Parei numa faixa de segurança para dar preferência a uma senhora. Os carros que estavam atrás de mim começaram buzinar, um motorista fazia sinais com a mão e outro arrancou o carro a toda velocidade, pegou a faixa da direita, quase atropelou a transeunte e se foi na frente.

Mais adiante, na próxima sinaleira, ele teve que parar do meu lado. Fiquei pensando: por que aquela pressa em ultrapassar, se logo adiante teria que frear no sinal? Existe uma necessidade fálica de ‘estar adiante’, de ‘entrar primeiro’, de vencer! Freud explicaria melhor.

A gentileza é ato tão simples, de efeito muito decisivo nas relações humanas, tanto para quem a recebe, como para quem a pratica. Mas para o exercício desta qualidade é preciso ter esforço e urbanidade. Esta natureza pertence apenas aos nobres, ilustres e distintos, não de valor econômico ou social, mas de caráter.