PAPAI NOEL EXISTE...

 
Já faz algum tempo, numa época em que eu era apenas uma criancinha, eu sonhei que era o Papai Noel.

Naquele raro momento de fantasias trazidas pela magia do meu sonho pueril, eu quis fazer tudo diferente daquilo que é feito nos dias de hoje e, com alguma dificuldade, consegui realizar apenas uma parte do meu propósito: continuar acreditando que o Papai Noel existe...

Por ser uma criança descendente de uma família pobre de recursos materiais, mesmo estando representando naquele momento mágico a figura do “Bom Velhinho”, aquele que em todas as épocas deu alegria para todos, indistintamente, não consegui dar presentes para a maioria das crianças da minha comunidade como ainda o faz o "Bom  Velhinho" dos nossos dias, por duas simples razões:

A primeira delas, porque eu não tinha muito dinheiro, essa moeda de troca a que todo homem contemporâneo se submete e depende dela para sobreviver e também para custear alguns dos seus projetos pessoais. Com pouco dinheiro era, e ainda é muito difícil comprar alguns bens materiais para um número considerável de pessoas igual àquele contingente presente no meu sonho.

Eu fiquei desolado, andei de um lado para o outro, rezei bastante para o Papai do Céu para ver se Ele me dava forças para eu continuar lutando e, principalmente, entendendo o real motivo dessas diferenças socioeconômicas existentes entre as diversas criaturas que Ele pôs no mundo dEle.

E por último, mesmo se eu tivesse esse tal dinheiro numa quantia muito alta, naquele momento eu não saberia como utilizá-lo diante das inúmeras necessidades daquelas crianças que me rodeavam ali naquele lugar, acreditando que eu iria resolver em definitivo os seus problemas mais cruciais.

A primeira idéia que me veio à mente foi fugir para um lugar bem distante dali e ficar bem escondido, observando aquele “entra e sai” de todas elas à procura de seus brinquedos e de suas fantasias de Natal.

Mesmo sendo eu uma criança, seria mais cômodo para a minha consciência mirim não participar de corpo presente daquela cena degradante, recheada da falta de quase tudo.

Relutei muito comigo mesmo, mas decidi ficar esperando aquelas que se aproximavam para me dar um abraço, um aperto de mão, mesmo desconfiadas.

Elas não viram nenhum trenó perto de mim, nem mesmo uma pequena rena circulando nas imediações.

Eu não estava vestido de vermelho e nem possuía barbas brancas e longas, nem um gorro nas cores vermelha e branca e nem me viram sentado numa cadeira bonita como o faz o Papai Noel moderno e, em razão da decepção de não virem realizados plenamente os seus sonhos, elas apelaram...

Caçoaram de mim o quanto puderam. Disseram, entre outras coisas, que eu era um Papai Noel de brincadeira e que eu estava querendo enganá-las.

Não tendo o que fazer para contestá-las, nem tampouco satisfazer parte das necessidades delas, ainda que de forma passageira, eu decidi acordar do meu sonho e, sem demora, me juntei a elas naquela caminhada inocente à procura dos brinquedos que o meu pai e o pai de todas elas haviam prometido e por alguma razão decorrente da disparidade ou aberração socioeconômica da humanidade moderna não estavam conseguindo fazê-lo a contento...

Feliz Natal! E se você se enquadrar no rol dessas crianças integrantes desse grupo que me chamaram de Papai Noel de brincadeira, eu gostaria que tentasse, pelo menos, ser também um Papai Noel por alguns instantes, ainda que não conseguisse ser totalmente parecido com aquele que só acontece nos seus sonhos!