Filhos da incerteza...
Filhos da rua varridos pelo vento...
Sonhos, sonhados transformados em solidão.
Chamados de menores abandonados em linguagem depreciativa.
Assim são as vidas dessas crianças e jovens.
São apenas números de estatísticas que enfeitam a miséria.
O abandono é forte, vergonhoso e tenebroso.
Mescla uma soma de sofrimento inimaginável.
A apatia e o conformismo são os trejeitos que falam por si só...
É uma sina? È uma saga? O que será?
O linguajar é monossilábico. De bocas ingênuas saltam sempre as mesmas respostas.
Ah! Moro onde dá prá ficar. A rua é o meu lugar...
Em cada amanhecer os filhos da incerteza abortam a esperança, pois vivem aprisionados e sem futuro, caminhando para os reveses presenteados pela vida que levam.
Não têm consciência que fazem parte de uma sociedade perversa e são marginalizados.
A grande maioria morre em tenra idade devido à violência, que campeia a ermo, a extensão triangular desse lindo país.
Cidadão é palavra bonita é bem definida pelos intelectuais.
Essas crianças valem tanto quanto os jornais, que forram seus leitos nas noites frias, chuvosas e enluaradas.
Elas perambulam sem destino, como estrelas errantes no céu...
Esses filhos da incerteza estão numa idade cronológica, onde o desenvolvimento físico e a inteligência estão em plena ascensão. O abandono aniquila, humilha sugando assim, todas as possibilidades... Como enxurradas vão sendo arrastados para um mundo abissal, profundezas irreversíveis... Assim a vida continua silenciosa como se nada tivesse acontecendo...
Essa crônica não é uma homenagem ao "Dia da Criança."
É um grito de alerta desesperador em prol dessas flores, que mal desabrocham e vão sendo levadas numa travessia, num último adeus ao Planeta Terra.