CASA DAS PRIMAS

Parece que foi ontem que isso aconteceu... Mas não foi...

Vínhamos de volta da igreja, um grupo de amigos e irmãos em Cristo caminhando e conversando amenidades. E uma diz entre sussurros um cochicho meio ininteligível, mas que os ouvidos curiosos e acostumados com a fofoca entendem bem:

_ Vocês sabiam que aqui é uma casa das primas? Uma orgia a noite toda!...

"Casa das primas"... novo nome dado ao antigo puteiro, prostíbulo, zona, lupanar... Fiquei imaginando que minha cidade pacata e simples de interior já está adquirindo aspectos de cidade grande, pois até então, não havia, organizado aqui, um lugar específico para o oficio da transa comercial, as menininhas ou mulheres que quisessem trabalhar, o faziam pelas ruas e discretamente porque ninguém quer ter a carteira assinada como puta.

Mas pra ter certeza se ali era “casa das primas” mesmo, procurei, dias depois, alguns machos amigos meus reconhecidamente pegadores, pra saber se algum deles já havia ido visitar as primas, e por incrível que pareça, nenhum deles sabia da existência de seu parentesco com as pessoas daquela casa em que “reinava a orgia a noite toda”. Descobri que a casa das primas é casa comum, onde os filhos adolescentes e jovens têm a liberdade de trazer amigos(as) e ouvirem música e comerem churrasquinho e rirem e brincarem... Inclusive, a dona da nova casa das primas, mãe dos adolescentes e jovens (três meninas e um rapaz) é minha amiga e eu não sabia que ela havia se mudado, senão, eu já teria virado prima também...

Lembro-me que há vinte anos atrás, a casa onde morei juntamente com as demais professoras, em Conceição do Muqui, distrito de Mimoso do Sul, era para a população local considerada “a casa da luz vermelha” (uma versão antiga da casa das primas), e nós, as professoras, éramos as mulheres da casa da luz vermelha porque ficávamos entediadas sem o que fazer e à noite, ligávamos o nosso rústico aparelho de som ouvindo o único disco que tínhamos – de Odair de Paula, e ficávamos jogando baralho até o sono vir... isso nos fazia ser as putas da localidade...

Hoje, as primas da minha rua são os filhos adolescentes e jovens da casa de minha amiga. Fico pensando: Por que as pessoas julgam sem conhecer, disseminam coisas sem ao menos saberem se é verdade e ainda, difamam quem quer apenas viver seu momento com alegria típica da idade? E eu vi isso em minha conversa entre meus “irmãos em Cristo”, sabendo que nem Cristo condenou Madalena, eu não tenho o direito de questionar ninguém... Perdoa-nos, meu DEUS, por nossa alma pequena e pela mediocridade de nossos pensamentos...

Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 10/11/2011

Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 10/10/2011
Reeditado em 11/10/2011
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