Chove lá fora (EC)
Madeleine se contorce novamente. Desta vez, a dor veio forte. Ela sente o aperto que começa nos rins, dá a volta e se espalha pelo baixo ventre.
Não podia ter esse filho. Engolindo a dor, lembrava-se do que lhe disse Jean-Paul, quando comunicou a ele a gravidez:
- Você está louca? Achou que eu ia ficar muito contente com essa notícia? Pois trate de se livrar logo disso, o mais rápido possível.
O barulho da chuva batendo na janela abafou os soluços dela. O choro foi incontido, pensando na decepção sofrida.
Está sozinha, na mansarda que aluga no velho prédio onde Mme Potot é consièrge. Ela lhe perguntou se estava tudo bem, quando a viu subir as escadas, encurvada, segurando-se no corrimão.
Tinha ido a uma clínica que fazia abortos. Saiu de lá sem o filho, e com um comprimido na mão, “para o caso de sentir dor”.
As cólicas estavam insuportáveis. Tomou o comprimido e voltou para a cama, esperando o alívio prometido. A chuva batia na janela, por cima da sua cabeça. A parede inclinada terminava, lá no alto, numa abertura envidraçada por onde se via o céu, e a água escorrendo, era solidária às lágrimas que se espalhavam pelo seu rosto.
Cochilou um pouco, e sonhou com o filho que já não viria mais. Um pequerrucho loirinho como o pai, e com os olhos azuis da mãe. Os dois juntos, olhando para o menino, embevecidos, e Jean-Paul abraçando-a, e agradecendo por ela lhe ter dado esse presente.
Uma nova cólica acordou-a do sonho impossível. Madeleine voltou à sua água-furtada, à sua solidão, à sua dor...
Foi até à janela e encostou a testa febril no vidro frio, quase podia sentir a água da chuva refrescar o seu rosto, tão perto estava. Abriu a janela, deixou que o vento molhado fustigasse a sua cara. Era bom... Viu, lá na rua, alguns guarda-chuvas passando, apressados. Devia ter gente, embaixo deles, gente que corria para suas casas aquecidas, onde havia famílias à espera, havia crianças chilreando, talvez um bebê rosadinho sendo mimado...
O peitoril da janela era baixo. A cabeça pesou-lhe em direção ao vazio, e o corpo foi atrás. Caiu na calçada, e foi cercada por transeuntes assustados.
A chuva lavava as últimas lágrimas do seu rosto, e transparecia um esgar, lembrando um sorriso. Madeleine tinha reencontrado o seu bebê.
Não podia ter esse filho. Engolindo a dor, lembrava-se do que lhe disse Jean-Paul, quando comunicou a ele a gravidez:
- Você está louca? Achou que eu ia ficar muito contente com essa notícia? Pois trate de se livrar logo disso, o mais rápido possível.
O barulho da chuva batendo na janela abafou os soluços dela. O choro foi incontido, pensando na decepção sofrida.
Está sozinha, na mansarda que aluga no velho prédio onde Mme Potot é consièrge. Ela lhe perguntou se estava tudo bem, quando a viu subir as escadas, encurvada, segurando-se no corrimão.
Tinha ido a uma clínica que fazia abortos. Saiu de lá sem o filho, e com um comprimido na mão, “para o caso de sentir dor”.
As cólicas estavam insuportáveis. Tomou o comprimido e voltou para a cama, esperando o alívio prometido. A chuva batia na janela, por cima da sua cabeça. A parede inclinada terminava, lá no alto, numa abertura envidraçada por onde se via o céu, e a água escorrendo, era solidária às lágrimas que se espalhavam pelo seu rosto.
Cochilou um pouco, e sonhou com o filho que já não viria mais. Um pequerrucho loirinho como o pai, e com os olhos azuis da mãe. Os dois juntos, olhando para o menino, embevecidos, e Jean-Paul abraçando-a, e agradecendo por ela lhe ter dado esse presente.
Uma nova cólica acordou-a do sonho impossível. Madeleine voltou à sua água-furtada, à sua solidão, à sua dor...
Foi até à janela e encostou a testa febril no vidro frio, quase podia sentir a água da chuva refrescar o seu rosto, tão perto estava. Abriu a janela, deixou que o vento molhado fustigasse a sua cara. Era bom... Viu, lá na rua, alguns guarda-chuvas passando, apressados. Devia ter gente, embaixo deles, gente que corria para suas casas aquecidas, onde havia famílias à espera, havia crianças chilreando, talvez um bebê rosadinho sendo mimado...
O peitoril da janela era baixo. A cabeça pesou-lhe em direção ao vazio, e o corpo foi atrás. Caiu na calçada, e foi cercada por transeuntes assustados.
A chuva lavava as últimas lágrimas do seu rosto, e transparecia um esgar, lembrando um sorriso. Madeleine tinha reencontrado o seu bebê.
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Chove lá Fora
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