Insônia

INSÔNIA

Quando na solidão da noite a insônia me acorda

Ouço no quintal, causado pelos ventos

Murmúrios dos prendedores de roupas, seus lamentos:

__ Chega mais pra lá... pára de me apertar!!

__ Não dá, é o vento que esta de amargar!

“Plact...plact...Vull...Vulll...”

__ Olá, você chegou hoje neste varal?

__ Sim, me compraram e estou aqui

__ Bela cor... amarelo- caqui?

__ É que sou novinho, espiraram verniz bem aqui!

__ Olha o lero-lero do convencido!!

__ Só porque hoje secou um lindo vestido...

__ è que eu sou de Bom-Pinho... Só me põem

Pra secar vestuário novinho...

“Plact.... Plact... flass... flass.... as folhas secas...

__ É!... – lamuria um prendedor velho,

__ O começo é sempre assim... isso trás lembranças...

__ Ora, velho! Conta aqui pra turma da corda,

As lembranças que recorda!

__Tem – disse um outro – Muita dor, isso sim!!

__ Ora pois, senhor Prendedor de Plástico...

...e não é a vida feita de dor e redenção, uma Ato fantástico?

“Plact... Plact... Fiuuuu; aproveitando o vento...

Os prendedores se amontuavam, ficando de ouvidos atentos...

__ Bem... no começo era assim...

Todos queriam só a mim...

__ Roupas de seda, tudo limpinho...

Lençóis bem cheirosos de puro linho

Mas o que me lembro mesmo, é do perfume...

__ Perfume – disse outro – do sabão e dos amaciantes?

__ Não, meu prendedorzinho...perfume dos Amantes...

Tão forte foi a paixão daquele encontro...

Que naquele lençol ficou para sempre...

O buquê de seu amor tão ardente...

__ Porém, um dia, sequei ao sol um lencinho...

Tinha cheiro de lágrimas...

Dessas lágrimas que lagrimamos quando estamos sozinhos...

__ Poxa... – falouo ouvinte atento – num falei que era dor!!!

__ Nhe-nhe-nhé... – retrucou o velho – era dor de amor... dor de saudade...

__ Já eu – disse outro prendedor – sequei uma toalha engomada

Devia ser de festa, tinha cheiro da alegria da garotada

__ A vá!!... como sabes da alegria, seu fuleiro?

__ Bobão! Sei pois, que da toalha mal lavada,

Que de brigadeiro, tinha o cheiro, hummm...

__ Hummm – disseram todos..

“Hummmm...Uuuuhh...Vuuuu... dizia o vento

__ Amargo mesmo – torn o velho – é o sol forte que escurece nossa madeira,

Enchendo ela de corte

__ Daí a gente, de curtido fica negão...

E depois, só querem a gente pra segurar pano de chão....

__ A gente cai do varal, se enche de esfolo

E vai parar na boca do cachorro.

“Roi, que rói”...ó como dói

Servir tanto tempo e acabar na boca que destrói...

__ Sina pior tive eu – disse um prendedor de bambu...

Me puzeram em lugar errado e acabei tomando...

“Vuuuull... Vuuulll...ploct...plotc...

Um pisão...

__ Isso é o que acontece – emendou o velho –

Quando a gente se apega a roupa errada...

Pensa que é agasalho...vai ver, é saia-justa...

Tarde de mais entrou numa roubada...

Só sei que essa história não me gusta...

( Um instante de eterno silêncio )

__ Vai velho...conta logo isso...

E nos livre desse suplício!

__ Hostória de dar dó, é do tempo da avó....

Mais dó dava das roupas, pelo seu fardo,

Que eram estendidas no arame farpado....

__Credo – disseram todos – que arrepio!!

__ Arrepio não é nada, - o velho – sendo eu que agonio.

__ Mas meu velho, você esta doente?

__ É que já vai clareando e minha agonia não tem quem agüente.

__ Mas desembucha velho da estrada!!

Divide sua dor com a rapaziada...

__ O velho serviu lá, acolá e aqui...

Igualzinho o prendedor ai....com cor de caqui

Servi meu dono com zelo e bondade

Mas hoje de manhã serei jogado fora

Porque em mim, quebrado, falta metade...

Então se fez mais silêncio, o vento parou

Os pássaros cantavam, o sol raiou.

Acho que os prendedores se calaram

Naufragados em seus pensamentos

Tentando adivinhar do futuro, seus lamentos.

Do sonho acordado...acordei...

Levantei... ressurgi das trevas da insônia

Bati roupa...

Torci roupa...

Enchaguei roupa...

E por um segundo...corri meu olhar em volta

Para ver se ninguém me via e enterrei meu nariz na roupa lavada

Tentando desvendar suas lembranças...

Encontrei o cheiro da felicidade...

Da felicidade de que a vida continua...

Fui ao varal contemplar os ditos prendedores e, de fato...

Estavam todos juntinhos como a se proteger do frio.

Porém tinha um que... fitei e senti arrepios...

Um velho prendedor de roupas...

Parecia um milagre...dele, faltava metade.

Peguei-o na mão com carinho, e até,porque não infantil respeito,

O que fez mudar meu conceito,

A madeira aquebrantada estava quebrada e velha...

Mas o Aço da Mola relizia sem ferrugem...

Entendi que o que importa não é ser velho

Mas conseguir ficar velhoe sábio como o prendedor

E ainda ter a alma jovem....Jovem Mola de Aço.

Guardei o prendedor no meu bolço com muito respeito.

Como uma forma de paga honesta

Pelo muito que ele, o prendedor de roupas, por mim já tinha feito.

Opus Sewaybricker
Enviado por Opus Sewaybricker em 24/12/2006
Código do texto: T326726