Viviane

Ela não era formalmente casada, mas morava com um homem e tinha relação estável. Só que o tempo foi passando, a monotonia tomou conta da relação e Viviane passou a gostar de outro. Teve, porém, frieza suficiente para terminar a faculdade, já que restava menos de um semestre e não teria como arcar sozinha com as mensalidades do curso. A ajuda do companheiro era fundamental para arcar com seus gastos e sabia que o novo amante, Jorge, um fotógrafo aventureiro, não lhe forneceria o mesmo conforto material.

Terminada a faculdade, foi morar com Jorge e começou a trabalhar, conforme seus planos. Porém, não estava preparada para o ciúme possessivo dele. Passou a ter a vida vigiada, a sentir constante inquietação, pois não podia mais ter amigos e tinha que sempre prestar contas de suas atividades. Impossível para ela suportar aquilo, por mais que gostasse de Jorge. A relação durou menos de dois anos e Viviane acabou voltando a morar com os pais, decidida a esquecer Jorge e começar de novo.

Mas não adiantou. Depois de Viviane ter ido embora, Jorge não se conformava. Parecia que se sustentava no ciúme doentio, mais do que na relação que terminou – ou simplesmente não aceitava o fato de ter sido abandonado. Tornou-se um homem em desespero, que pouco trabalhava, fumava muito e emagrecia a olhos vistos. E continuava a persegui-la por onde ela fosse, a ligar, a mandar cartas, enfim, era uma sombra constante em sua vida. Nunca desistia.

E assim seis meses se passaram sem que Jorge aceitasse a separação e cedesse um milímetro sequer. Viviane não suportava mais a situação, queria sua vida de volta e também se irritava em saber que Jorge definhava por gostar dela. Sua paciência se esgotou e acabou indo ao apartamento dele num dia em notou que ele a perseguira quando passeava com uma amiga. Ela explodiu em raiva, como que clamando pela própria liberdade, e lhe disse mil e uma verdades. Disse que não o amava mais, que não suportava a perseguição, que ele deveria crescer e virar homem, ser independente, que o considerava uma criatura detestável, etc. Jorge ouvi em silêncio e ela foi embora.

Uma semana depois o corpo dele foi retirado do apartamento. Morreu sozinho, de inanição. Ao lado do cadáver, o último maço de cigarros.

Vão-se mais de 5 anos desde o ocorrido. Ainda hoje, quando lembra, ela tem lágrimas nos olhos. E se ela conta essa história a alguém, acaba se retirando para chorar sozinha. Não quer admitir que ele ainda, de certa forma, tem controle sobre sua vida.