JOBS: UM SEMIDEUS NECESSÁRIO.
 
Por Carlos Sena


 
Steve Jobs tornou-se imortal às avessas. Normalmente os chamados “imortais” o são em função de títulos conseguidos em outorga pelas academias, principalmente as de letras. Há os que se imortalizaram pelas lutas humanas como Madre Tereza de Calcutá, Gandhi, Dom Hélder, Irmã Dulce. Outros pelas artes como Michelangelo, pela cultura como Gilberto Freyre, pela política como Kennedy. Outros pela ciência como Einstein, Freud, Lavoisier, Carlos Chagas. Ainda outros pela música como Amadeus, Villa Lobos, Luiz Gonzaga, Chopin, Chiquinha Gonzaga, Vivaldi, etc., etc.

Jobs não. A impressão é a de que ele não morreu, foi enviando por e-mail para algum lugar no universo, pois talvez a idéia de céu não coubesse bem nele. No fundo quem fez o que ele fez; quem inventou o que ele inventou; quem descobriu o que ele descobriu não o teria feito sem ter DEUS por perto. Independente da forma que Deus venha a ter,  certamente ELE (Jobs) foi muito bem induzido pela sombra das “estrelas”, ou pelo brilho do sol, quiçá pelos mistérios da noite, que são de alguma maneira expressões divinas. Entendo que ele foi um gênio às avessas por ter entrado numa seara tão abstrata quanto a fé. A tecnologia da informação na forma como foi tratada por Steve o levou a ser tratado como visionário, meio bruxo, talvez um “macumbeiro moderno”... Mas ele tinha certeza de que mudaria o mundo quando preferiu investiu no seu sonho, a embarcar num pesadelo de ser sócio em uma fábrica de refrigerantes.

Sendo prático, parece “milagre” o uso de um simples controle remoto. As passagens que seguem são antológicas e expressam um pouco da importância de Steve: a) Bartolomeu Dias (O Anhanguera), sabendo que os índios não sabiam o que era “ALCOOL” jogou um pouco no chão e tocou fogo. Os índios, abismados, ficaram em polvorosa talvez imaginando que se tratasse de um “milagre”. Bartolomeu, então, fez sua chantagem: ou vocês nos entregam todo o seu outro, ou incendiarei todos os seus rios. Os índios, naturalmente, entregaram tudo. Imaginem com a tecnologia que dispomos hoje. b) Uma criança nos viu acionando o controle remoto do carro e, diante dos vidros subindo (controle remoto) ela nos perguntou: “tem um capeta dentro do carro"? - Sim, respondi. Ela sumiu em desabalada carreira gritando: "um capeta, um capeta". Isto em pleno século vinte e um, numa cidade do interior de Pernambuco onde o progresso está presente com tudo que tem direito. Se quisermos ir mais além, basta raciocinar no papel social do celular – parece que virou indumentária obrigatória, verdadeira coleira eletrônica. Ninguém ousa sair sem ele, não obstante os aparelhos com vários chips que invadem o mercado, sob as mais variadas configurações, formas e designers. Isto só pra ficar nos celulares, pois a parafernália eletrônica que permeia nossas vidas dispensa relatos.

Com já nos referimos em outro artigo, Steve Jobs foi pro “céu” via e-mail. O melhor é que ele sabia que suas invenções foram o grande diferencial prático da vida das pessoas em todos os tempos, no segmento tecnologia. Com isto, a sociedade de consumo deitou e rolou a cada nova invenção lançada no mercado. Neste sentido é que entendemos que ele tenha quebrado a ortodoxia da imortalidade! Um cientista é tão ou quão mais importante, dependendo do que ele inventa ou descobre em benefício da humanidade. Hoje, hábitos e costumes foram modificados, alterados, postos em dúvidas ou consolidados, em função de que o homem moderno dispõe de instrumentos eletro eletrônicos para tal.

Do ponto de vista pessoal, na qualidade de humano, eis que um câncer se instala nele. Se um dia Steve Jobs pensou que fosse “deus”, enganou-se. Contudo, convenhamos, tinha motivos de sobra para, num rasgo de fragilidade humana, acreditar que fosse. Como deus não era, eis que seu lado humano deu sinais acelerados de finitude: começou ele a definhar, a ficar com cara de doente como todo mundo... Deve ter sido uma barra! Diante de si uma fortuna incalculável. Certamente tinha mulheres mil, amigos aos borbotões, conforto e demais benesses da sociedade de consumo. Mas e a vida? Se tivesse autorização de DEUS para trocar sua posição social elevada, todo seu dinheiro e sabedoria, por uma pessoa pobre, mas com saúde, certamente trocaria. Mas a vida é irônica na medida em que é professora de primeira grandeza para muitos que preferem só entendê-la pelo duro exercício do sofrimento. Mas Jobs não foi assim. Resignou-se. Descobriu o lado bom da morte. Felizmente esse não foi o caso de Steve. Cedo, teve certeza que caixão não tem gavetas e que só levamos para o outro lado da eternidade as boas ações que fizermos aqui na terra. Deixou-nos sem queixas. O mundo agora vai se queixar da sua falta, mas certamente o seu legado será multiplicado para o bem de todos nós.