“Cabeça vazia é oficina do diabo”
Essa frase resume bem com era a situação em minha casa. Isso porque, desde pequeno não tínhamos moleza, era preciso trabalhar para reforçar o orçamento familiar. Engraxava sapatos, catava ferro-velho pelo bairro, chuleava calças, caso não tivesse nada pra fazer, o meu pai inventava qualquer serviço, aliás, se tivéssemos pregos retirados dos containers tínhamos que desentortar um por um. não quero dizer com isso que éramos escravos do trabalho, era sim uma maneira de ocupar o tempo. O titulo acima diz tudo.
Trabalhava numa gráfica de segunda a sexta, aos domingos fazia bicos (trabalho extra) desta vez numa banca de feira livre, banca de cereais. Por ter trabalhado no Mercado Distrital do Ipiranga eu fui convidado a fazer esse serviço na feira, enfim tinha prática no atendimento, e por trabalhar precocemente no comercio eu aprendi a lidar com os fregueses, enfim: bom dia freguesa – bom dia freguês – obrigado senhor – obrigado senhora, isso foi na torrefação Café Jambo, no Mercado Municipal, Casa do Bom Vinho, Avicultura Anchieta etc. Educação em primeiro lugar.
O dono da banca tinha um caminhão marca “Chevrolet 51”, veiculo econômico bem conservado. No sábado a noite preparávamos as mercadorias e às 2 horas da manhã, lá vamos nós rumo a feira livre da Praça da Arvore.
Na boleia só cabiam duas pessoas, que eram o pai e o filho, ambos de peso avantajado. Eu e o amigo de trabalho “Dito mineiro” viajávamos em cima das mercadorias, embaixo da lona, que neste dia de madrugada chovia muito, daí ficamos ensopados.
Chegamos no local da feira, agora o trabalho era montar a enorme barraca, isto feito já com os produtos nos devidos lugares, estávamos aptos para atender toda a clientela. O dia foi clareando, logo chegavam pessoas querendo comprar, enfim era uma correria naquele pequeno espaço, um ficava no caixa e nós três circulando, atendendo.
Além de atender fui também designado a fazer algumas pilhas de sabão. Recordo de algumas marcas, que eram: Sol levante; Vencedor; Minerva. Com a chuva de vento, gotas d’água respingavam por entre os pedaços de sabão, resultava que saia um caldo, e no manuseio as mãos ficavam impregnadas de soda caustica.
Óleo de amendoim; óleo de milho; de soja ainda não existia. Feijão roxinho estava em falta, vendíamos 1 k por pessoa. O concorrente potencial das feiras livres eram as “COAPs”. Recordo que tinha uma na Rua Grenfeld próxima do Grupo Escolar José Escobar-Ponto Fábrica e outra na Rua Álvaro do Vale-Vila Carioca, que pertencia a uma família de japoneses, que com o passar do tempo se tornou um supermercado.