OS BOTÕES DA BLUSA
"Os botões da blusa, que você usava..." O sensualismo das músicas de Roberto Carlos era acompanhado de ternura, muito carinho e sem pressa. Tempos em que o amor acompanhava o sexo ou, pelo menos, o conhecimento do outro vinha antes dos finalmente. A relação sexual era o gran finale de um período de conquista e o começo de uma vida em que sexo, companheirismo e cumplicidade se completavam. Não me refiro aos tempos em que a virgindade era uma exigência e a mulher inciava a vida sexual só depois do casamento. Nesse caso, muitos casamentos foram à breca, muitas traições desestruturaram os sonhos e a confiança da mulher. Refiro-me ao pós década de 60, quando a pílula liberou a mulher, dando-lhe chances de conhecer outros parceiros e, consequentemente, poder escolher e deixar de ser o elemento passivo na relação.
Se por um lado essa abertura libertou a mulher, colocando-a lado a lado com seu companheiro, por outro provocou alguns exageros que banalizaram as relações. Passou a acontecer um verdadeiro troca-troca, toma-lá-dá-cá e, hoje, a transa acontece, muitas vezes, sem o mínimo conhecimento do outro. Sem falar no famoso "ficar" onde, numa única noite, a meninada beija e amassa quase uma dúzia de parceiros. Chegando a haver, entre os adolescentes, "campeonatos" de "quem ficou mais"!
Não estou julgando. Apenas tenho constatado que, se a mulher e o homem ganharam com essa abertura, também muita coisa se perdeu. Os contatos rápidos não intensificam as relações, perde-se a oportunidade da troca, os corações dos jovens se ferem ao serem ignorados na sua essência. Porque o ser humano não é uma máquina. Somos um conjunto de instinto-sentimento-razão e quando um desses elementos fica esquecido ou é preterido em prol dos outros dois, a frustração é inevitável.
Saudades de quando os botões da blusa iam, pouco a pouco, nos deixando ver, no meio de tudo, um pouco do outro...