Dia do prefeito

O meu leitor Ameba manda avisar que hoje é dia do prefeito, comemorado em todo o Brasil com uísque da melhor qualidade, boa companhia e farta mesa em badalados restaurantes, com direito a convidados especiais, tudo por conta da “Muda”.

O emprego é muito bom. Salários altíssimos, diárias generosas, carro e motorista, crédito ilimitado nos armazéns e demais fornecedores, amplo poder para agradar amigos e amantes, apaniguados e eleitores, parentes e aderentes. Quem fixa a atenção nessas regalias, esquece do grande esquema das licitações fraudulentas, o filé mignon desse negócio onde só entra quem é mala geral. O sujeito não investe de graça um milhão ou mais para se eleger prefeito de uma cidadezinha qualquer, apenas pelo amor à terra natal. O retorno é garantido e na base de lucro que supera o negócio das drogas.

Na outra ponta da linha tem o eleitor, que deveria também ser homenageado com seu dia. É o protótipo do otário. São de três tipos: o interesseiro, o idealista e o cabo eleitoral. O interesseiro só vota se receber algo em troca, nem que seja uma garrafa de cachaça, um pneu de bicicleta, um saco de cimento, coisas assim. Pensa que é mais sabido do que os demais. O idealista vota acreditando mesmo no seu candidato. Veste a camisa, briga com o vizinho, cabala votos pra no fim sair decepcionado com seu herói. O cabo eleitoral vende votos que não tem. Geralmente é pago com créditos que não existem.

Difícil encontrar hoje em dia um prefeito que se comporte com respeito e cuidado pelo patrimônio econômico, político e cultural de seus munícipes. Vida limpa, passado e presente decentes, competência, transparência administrativa, estar sempre no meio do povo, são virtudes que o eleitor consciente procura em um candidato a prefeito. Eleitores que pensam assim já são raros, imagina candidatos!

O prefeito mafioso, esse é o grande favorecido nessa farsa que se chama eleição. Entretanto, é como diz meu compadre Dalmo Oliveira: a rapadura é doce, mas não é mole não! Para ser prefeito, a pessoa tem que ter estômago e não ligar muito com essa coisa de honra, dignidade pessoal e vergonha no focinho. O ex-prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, foi preso algemado pela Polícia Federal, acusado de roubo. Sofreu o diabo, foi humilhado até à exaustão pelos inimigos políticos, caiu em depressão, teve a honra pessoal enxovalhada por jornalistas caça-níqueis. Mas está aí de volta, firme e forte, dando a cara de novo pra bater, querendo ser prefeito da Capital. Daí eu inverto o ditado de Dalmo: a rapadura é dura, mas que doçura!

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 06/10/2011
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