SUTIL E PODEROSO

A cidade é o Rio de Janeiro, mais precisamente na Zona Norte da capital. Era um Domingo à tarde e a chuva caía forte nas ruas. O tempo não era favorável e o trânsito muito menos. Havia muitos automóveis se aglomerando ao mesmo local.

Jorge e Matheus estavam dentro de um ônibus lotado. Todas as cadeiras ocupadas e alguns passageiros estavam de pé. Ambos indo à casa da boa e velha avó.

- Qual o jogo de hoje? – perguntou Jorge.

- Hoje tem Fla x Flu.

O irmão de Matheus não tinha um bom entendimento de futebol e ao ouvir o nome pronunciado, levou ao pé da letra. Juntou tudo formando uma única coisa.

- Flaflu contra quem?

- Hã? – Matheus deu uma pausa para gargalhar. – Como assim Flaflu contra quem? O Jogo é Fla x Flu.

- Sim, isso você já disse. Agora pergunto quem vai jogar contra o Flaflu.

- Vou dizer de uma outra maneira para você entender melhor. - disse rindo – É Fla contra Flu. Entendeu?

- E que time são esses? – Jorge perguntou quase indignado. – Nomes mais esquisitos.

- Cara, é Flamengo e Fluminense.

- Ah! Agora entendi. Você abreviou.

Agora Jorge sabia como era chamado um dos clássicos cariocas mais emblemáticos. E sabia também que não era nada inteligente pegar um ônibus e passar pelo Maracanã em dia de jogo. O pior de tudo era que estava chovendo.

- Mesmo chovendo, está abafado aqui dentro. – disse Jorge se remetendo ao calor gerado pelas janelas fechadas e as transpirações humanas emitidas sem parar.

- Nem podemos abrir a janela. – completou seu irmão.

De repente uma dor tomou a região da barriga de Matheus. Aquilo o pegou de surpresa o fazendo se contorcer com as mãos no abdômen.

- Tudo bem ai? – perguntou Jorge.

- Me deu uma dor de barriga agora. Acho que são gases. Eu não comi nada.

Eram quase seis horas da tarde e o jogo estava para começar. O que começaria também era eliminação de flatulências de Matheus, que assim, logo não se agüentaria.

- Não da pra segurar não.

- Mas vai ter que tentar. – disse Jorge com medo de todos do ônibus olhassem para eles.

- Me desculpe mano.

Em um levíssimo movimento, Matheus levantou a perna direita, e bem de fininho largou um poderoso e asqueroso pum. Não demoraria muito para que o cheiro tomasse conta do veiculo. E realmente, aquilo foi rápido. Como uma nuvem, aquele gás fétido foi se propagando ao longo do ônibus. Percebendo que já começariam a desconfiar, Matheus tentou se livrar.

- EU NÃO ACREDITO NISSO! É uma sacanagem alguém soltar um gasoso dentro de um ônibus, fechado, lotado. E o pior, não da pra abrir a janela. Olha a chuva lá fora!

Jorge estava extremamente sem graça, mas não conseguiu se conter. Começou ali um ataque de risos. E Matheus não parou por aí.

- Poxa, isso é muito vacilo. Estou perdendo o Fla x Flu preso nesse ônibus, e ainda tenho que agüentar esse cheiro de fossa.

Matheus olhou para a janela visando à rua e com o canto da boca começou a dar minúsculos risos. Já havia entendido que conseguira se livrar de qualquer acusação. Aliviado agora estava, e não esperava a hora de chegar à casa da avó.

RENAN MOTTA
Enviado por RENAN MOTTA em 06/10/2011
Código do texto: T3261087
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