"OCTI" ENTRE OS IMORTAIS
Hoje são 06 de outubro de 2011 e o jornal A Gazeta estampa como principais assuntos: “Morte de Steve Jobs, co-fundador da Apple e “pai” do iPhone, do iPad, do iPod... um gênio que revolucionou os processos de comunicação” e “Show de Justin Bieber no Rio de Janeiro X fãs adolescentes enlouquecidas X aeroporto de Vitória- ES, fechado por causa de chuvas X pais dispostos a levá-las de carro.”
Sobre o primeiro, sinto muito e espero que sua esposa e seus filhos encontrem conforto espiritual. Quanto ao segundo, às fãs e aos seus pais... sei lá. Também já fui jovem e teria enchido o saco de meu pai para me levar para ver os Beatles, os Rolling Stones, os Fevers, o Roberto Carlos e até o Morris Albert (Feelings) que foi o meu grande “amor”.
Na verdade, não quero falar sobre nada disso, porque estou de luto desde o dia 30 de setembro de 2011, quando soube que “Octi” nos deixara. Soube que ele tivera problemas de saúde, ensaiei para visitá-lo por duas vezes, mas desisti diante de uma fala ao telefone com uma de suas grandes amigas, a professora Arlêne Campos: “Soube que ele não quer visitas!”, disse-me ela. Fazia sentido, esse havia sido o seu comportamento, há alguns anos, quando tivera problemas cardíacos. Se eu não respeitara o seu desejo naquela vez, preferi fazê-lo agora, esperando que melhorasse e que eu pudesse, então, visitar aquele que fora o grande propulsor de minha vida docente.
Sim, lembro-me de seus elogios ao meu desempenho como sua aluna de Francês e de Literatura Brasileira, e de seu incentivo para que eu assumisse aulas das línguas de Napoleão e Camões no Colégio Estadual (quando eu era ainda uma aluna do Curso Científico). Então, nossa relação de professor e aluna passou a ser, também, a de colegas, às vezes regentes nas mesmas turmas.
Esse foi um tempo maravilhoso não apenas pelo trabalho, mas pela forma como nos divertíamos juntos: churrascos entre alunos e professores nas lagoas de Linhares (e na sua própria também), passeios de professores como os que fizemos a Porto Seguro e Ilhéus, sob a iniciativa de sua irmã, a inesquecível diretora da “Emir de Macedo Gomes”, Dona Joacyr Calmon Mantovanelli.
No início da década de 80, nós, que nunca enjeitávamos serviços, dobramos nossa jornada e passamos a ensinar inglês (eu) e literatura (ele) para os meninos do curso pré-vestibular Delta, do já visionário, Guerino Zanon. Nosso chefe sempre valorizou as pessoas, por isso, no Delta e posteriormente no Colégio Cristo Rei, costumávamos ter ótimas festas. Certa feita, após observar atentamente as nossas diversões, “Octi” se aproximou de Guerino, colocou o indicador em seu peito e profetizou: “Você vai ser prefeito de Linhares!”
Foi nessa época que alguns colegas o apelidaram de “Big Boy”, ou simplesmente: “Big!” Nunca perguntei a ninguém se era uma referência a um locutor de rádio da época, se era uma alusão à sua alta estatura, ou se era uma homenagem ao espírito brincalhão, de “meninão” que ele tinha. Para mim, intimamente, eu o chamava como, carinhosamente, sempre o chamei: “Octi”
Em 2000, como coordenadora do curso de Letras da Unilinhares, eu o convidei para assumir as disciplinas de Literatura Portuguesa e devemos a ele, também, o sucesso que a primeira turma alcançou no provão do MEC: conceito B!
Nos anos que estivemos juntos, na condição de subalterna, de colega ou de líder, tive sempre um amigo, um consolador, um admirador e para ele procurei ser as mesmas coisas. Por tudo isso, doeu muito chegar à Capelinha, abraçar sua esposa, suas filhas, seu filho, seus netos e familiares, mas certamente muito menos do que sentir sob as minhas mãos as gélidas de um grande amigo, fazendo meu peito se apertar e olhos se turvarem pelas lágrimas.
A fala final do padre Selésio nos confortou. Assim como ele, pensamos que é grande o legado que o querido professor Octaviano Carvalho Calmon, filho de dona Olinda e do“vovô” Quincas, esposo de Durvali, pai de Adriane, Liliane e Tadeu, avô de netos queridos, nos deixa. Isso por que as informações, os conhecimentos, enfim, a educação que ele distribuiu carinhosa, séria e competentemente para tanta gente, está sendo vivida por aqueles que conosco agora aprendem e continuará sendo expandida por todos que nos sucederão.
Se algo me conforta na perda do meu amigo “Octi” é imaginar que ele deve ter sido festivamente recebido por imortais como Gregório de Matos, Cláudio Manoel da Costa, Olavo Bilac, Castro Alves, Gonçalves Dias, José de Alencar, Machado de Assis, Camões, Gil Vicente e José Saramago...e agora brilha na ALC- Associação Literária Celestial.