O PALHAÇO DA VEZ ("Palhaço...palhaçada...o que dá pra rir dá pra chorar...infelizmente....belo texto". — Maria Dilma Ponte de Brito
Nunca imaginei que um dia me transformaria em um palhaço. Não aqueles engraçados que fazem rir e divertem as crianças nos circos, muito pelo contrário. Eu virei um daqueles palhaços tristes, cujo rosto pintado disfarça a amargura por trás do sorriso forçado.
Tudo começou quando entrei para o sistema educacional. Era jovem, idealista, sonhando em transformar vidas por meio do conhecimento. Ah, como eu era ingênuo! Logo nas primeiras semanas de aula, deparei-me com a dura realidade: a maioria dos meus alunos não estava realmente interessada em aprender. Eram verdadeiros palhaços em busca de atenção e diversão fácil.
Lembro-me de Bicalho, o típico adolescente que vivia fazendo piadas inapropriadas apenas para chocar e desafiar minha autoridade. Ou da Cacilda, que pintava o rosto de maneira exagerada, como se estivesse se preparando para um espetáculo de TV ao invés de uma aula. E quem poderia esquecer o Zé Bonitinho? Aquele garoto era o mestre dos truques, capaz de fazer qualquer objeto desaparecer dentro das mangas largas de seu moletom.
No início, tentei impor ordem e disciplina. Afinal, uma sala de aula não é um picadeiro! Mas, por mais que eu gritasse ou ameaçasse com punições, os palhaços apenas riam ainda mais da minha cara. Foi quando percebi que, para sobreviver naquele circo de horrores pedagógicos, eu mesmo precisaria me tornar um palhaço.
Então, comecei a atuar. Fingia rir das piadas infames, aplaudia os truques mais infantis e elogiava até mesmo as maquiagens carregadas que mais pareciam fantasmas de uma história de terror. Troquei as roupas normais por camisas coloridas e calças xadrez, na esperança de me misturar melhor àquele bando de bobos alegres.
No fundo, porém, eu nunca parei de ser um palhaço triste. Porque por mais que tentasse entrar na brincadeira, sempre havia o lamento silencioso: "Onde foi que erramos? O que aconteceu com o verdadeiro propósito da educação?". Às vezes, olhava para os rostos daqueles garotos e garotas e via apenas máscaras, rostos desfigurados que escondiam suas verdadeiras identidades por trás da fachada da diversão barata.
Hoje, quando me perguntam porque continuo sendo professor, respondo: "Porque prefiro ser um palhaço vivo a um herói morto". Afinal, talvez um dia, entre tantas palhaçadas, algum desses jovens se canse da vida de circo e resolva, enfim, aprender algo de verdade. E nesse dia, estarei aqui, de nariz vermelho e all-star surrado, pronto para mostrar que, por baixo da maquiagem borrada, ainda existe um professor disposto a ensiná-lo.