MORTE ANUNCIADA (BVIW) - Mini crônica
Com os olhos fechados, ele a olhou de viés e encarou-a de frente. Como um morcego, guiado por seu cheiro inodoro, tateou seu corpo com os pés e fumou o ar que ela exalava. Arrepiado como um porco espinho, bicou sua face e mordeu seus cabelos. Sufocada, ela lhe deu um pontapé na espinha, feriu-se nos espinhos e vomitou um ar seco que encharcou seu rosto. Torturados pelo ódio, destilaram amor na casa de vidro. Na rua deserta, sob o sol a pino, a multidão olhava aquela cena lírica que a chuva encobria. Mataram-se mutuamente. Ninguém viu. Nos outro dia os jornais estampavam na primeira página: "Casal saca revólveres e atira para o alto. Duas balas ricocheteiam no telhado e perfuram seus crânios. Dois corpos caem ao mesmo tempo". Ambos pegaram perpétua.
* Este texto fez parte do tema "Crônica ridícula", no
BVIWtecendoletras.