A PARÁBOLA DA BOLA
Autuado em flagrante por: Angelo Magno


Em um ginásio lotado, quatro professores se preparavam para ensinar o segredo do sucesso para candidatos ávidos por conquistas. A plateia estava animada, pois, os nomes dos preletores estão entre os mais conceituados da história.

O primeiro orador se levantou de sua poltrona acenando para todos e pedindo silêncio colocando o dedo indicador sobre os lábios, aquele senhor de boa aparência se apresentou como “Materialismo” e em seguida pegou duas bolas de futebol de um saco e, erguendo uma das bolas, promulgou o seguinte axioma: “Devemos acumular posses. Essa precisa ser nossa meta de vida e o motor que nos impulsiona a continuar trabalhando.” Erguendo a segunda bola em seguida, mostrando que um pode e deve se tornar dois. Sob aplausos respeitosos, o primeiro preletor se sentou na mesma poltrona.

O segundo orador da noite se levantou pedindo uma das bolas do primeiro, logo em seguida se apresentou como “Individualismo”. Ao abraçar a bola, enrolado-a entre os braços contra seu peito, lecionou que: “Não devemos compartilhar nossas posses com ninguém. Nossa meta de vida é ter sempre mais”. A plateia ovacionou-o com aplausos, assobios e gritos enquanto ele tomava a outra bola do companheiro e sentava de volta em sua poltrona envolvendo as duas contra o peito.

O terceiro na fila se levantou e pediu uma das bolas ao seu antecessor que se negou a entregar provocando risadas da plateia atenta a cada detalhe. Depois da brincadeira ele entregou a bola. Acenando sorridente para a multidão que ainda gargalhava, teve que falar alto ao se apresentar – “Hedonismo” – foi o nome dito a plenos pulmões. Todos fizeram silêncio sem que ele precisasse sequer fazer qualquer menção a isso. Sem dizer uma palavra, aquele homem começou a fazer gestos obscenos e posições sexuais com a bola provocando risadinhas tímidas e comentários esporádicos, em seguida afirmou em alto e bom som: “Possuímos para ter prazer. Essa é a raiz que alimenta todas as buscas de nossas vidas.” A turba se levantou e foi ao delírio, como se uma seleção de futebol tivesse feito o gol da decisão na final da Copa do Mundo. Voaram chapéus, camisas foram arremessadas, papéis voavam em toda a direção acompanhados de gritos ufanistas.

Enquanto o terceiro palestrante se sentava de volta em sua poltrona, o último se ergueu de um salto e foi bem para frente do palco tomando uma das bolas de seus antecessores. Seu nome foi ouvido apenas por alguns e dizia-se “Imediatismo”. No meio daquele barril de pólvora disse apenas uma frase, chutou a bola com força para fora do ginásio lotado e pulou no meio da multidão que o ergueu nos braços e continuou gritando e aplaudindo, a frase era: “Precisamos ter tudo e ter agora”! A partir daí todos saíram em marcha como quem caminha para conquistar o mundo.

Do lado de fora, um grupo de crianças vinha passando e viu quando a bola caiu na rua, sem pensar duas vezes, correram e começaram a brincar entre eles, sorrindo e correndo com a bola nos pés. Quando a multidão passou por eles, alguns observaram como aquelas crianças eram bobas e não entendiam o significado mágico e profundo daquela bola, as crianças, no entanto, apenas desceram a rua brincando e sorrindo com a bola daqueles homens importantes.







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