Rafinha Bastos, na minha opinião

Perdoem-me a insistência. Ando cultivando algumas obsessões, como fazia o Nelson Rodrigues – ele próprio, uma das minhas mais recentes. A minha obsessão da semana é o Artur da Távola, de quem eu já escrevi e não tinha a intenção de voltar a fazê-lo. Mas esse caso do Rafinha Bastos, criticado e por fim suspenso do CQC após a sua piada sobre a Wanessa Camargo, me fez lembrar de um dos textos do Artur que li há alguns dias. Trata-se de uma crônica destinada às pessoas de opinião – portanto, altamente recomendável para aquelas que estão se posicionando na história do Rafinha Bastos.

Artur da Távola começa o seu texto lembrando que ter a sua própria opinião é considerado uma virtude. Afinal, é preciso força e decisão para ter opinião – e mais ainda para defendê-la. Mas Artur propõe que pensemos se essa opinião é uma instância realmente profunda ou se ela é apenas uma das primeiras reações que se tem diante das coisas. Para ele, a opinião é quase sempre uma reação que expressa apenas sentimento ou julgamento.

Quando ouvimos o Rafinha Bastos falar que comeria a Wanessa Camargo – ela e o bebê – rapidamente fazemos uma síntese do que somos até o momento e reagimos conforme o primeiro sentimento que ela nos traz. Pode ser indignação, mas também indiferença e até mesmo prazer. Essa reação revela a maneira como julgamos a vida, o mundo e as pessoas. Nesse momento, formulamos a nossa opinião – ou seja, fazemos o nosso julgamento sobre o que acabou de nos ser apresentado.

Mas a opinião, nascida tão prematuramente, não dá conta dos vários componentes da realidade. Ao contrário, a opinião é uma forma de se defender da complexidade do real. Se sumariamente qualificarmos o Rafinha Bastos como um babaca ou, no mínimo, péssimo humorista, não precisaremos nos preocupar em entender os momentos em que ele possa ter sido realmente engraçado, ou mesmo uma pessoa bacana e inteligente. Por outro lado, se gostarmos do seu trabalho independente de qualquer coisa, estaremos desconsiderando a possibilidade de que ele venha a exagerar ou ter atitudes bastante desagradáveis. A opinião, nesse ponto, nos livra do trabalhoso ato de analisar. É mais fácil do que ter dúvidas, afinal.

Ter uma opinião sobre esse ou qualquer outro assunto também costuma trazer prestígio para a pessoa. Representa coragem, heroísmo. Um artigo contra o Rafinha Bastos irá conseguir rapidamente várias manifestações de apoio. Do mesmo modo, um artigo que o defenda. Ambos serão aplaudidos pela ousadia e usados para reforçar a nossa opinião – que é válida e respeitável, mas não passa de um exercício de conhecimento, via de passagem para a convicção, para a análise, para a dúvida e para a evidência (elementos da verdade).

Pensei nisso porque vi a quantidade de pessoas com opiniões bastante firmes sobre o episódio, e eu sem conseguir descobrir qual era realmente a minha. Experimente questionar uma dessas pessoas com opinião: ficarão ofendidas. Defenderão até o fim aquilo que, quase sempre, é simples impressão, superficial e imediata, carregada de sentimento. Transformarão a opinião em verdade – pulando todas as etapas! Haverá alguém disposto a aceitar que a própria opinião é uma manifestação ainda superficial?

Isso tudo eu aprendi com o Artur da Távola. Um bom cronista, na minha opinião.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 05/10/2011
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