Fuá no cemitério submerso
Até defunto entra na brigalhada politiqueira de Itabaiana
O compadre Marconi botou o apelido de Brogodó na cidade de Itabaiana, mas eu prefiro Macondo, terra do Coronel Buendia, saído da imaginação do mestre Gabriel Garcia Márquez em Cem anos de solidão, sua obra prima.
Macondo fica ali onde é ponto pacífico que a ordem estabelecida é o desvario da mediocridade mais tacanha e ridícula. É um lugarejo no meio da solidão das coisas ultrapassadas e sem substância. É um lugar distante, fora do mapa da civilidade.
Fato um: Kinho passou no concurso para coveiro do cemitério do distrito de Guarita, mas não foi convocado porque não é eleitor da “mãe Dida”. Essa Grande Mãe dos pobres de espírito foi obrigada pela Justiça a nomear e dar posse ao Kinho no seu digno cargo de enterrador e desenterrador de defuntos. Aparentemente para se vingar do Kinho que conseguiu seu intento de entrar para o serviço público pela porta da moralidade do concurso, a Grande Mãe providenciou para que duas ossadas fossem devidamente preparadas para ser transladadas pelo novo e malvisto coveiro. Acho que a dama de ferro dos campos santos imaginou: pegando logo de saída um serviço tão ingrato, o coveiro recentemente empossado iria pedir demissão, abrindo a vaga para um verdadeiro filho da Mãe Grande, um fiel seguidor da seita didista.
Fato dois: caiu o muro do cemitério de Itabaiana. Não suportou as fortes chuvas de julho. A oposição, representada pelo heróico, persistente e perturbador blogueiro Marconi Xavier, bateu a marreta todos os dias, focando o episódio, mostrando o matagal do cemitério em ruínas. Para não dar o braço a torcer, a Dama de Ferro com seus amados filhos secretários não se importa de mostrar a quem chega, na porta de entrada da cidade, o cemitério com seus muros desmoronados.
O fabuloso mundo de Macondo tem dessas coisas, e muito mais. De noite, o cemitério reúne gente fumando maconha, vendendo armas, evangélico pregando o fim do mundo e a ressureição dos mortos, prostíbulos itinerantes, pai-de-santo invocando Zé Pilintra, mula sem cabeça combinando com eleitor sem juízo, uma zorra! Para organizar a área, alguns funcionários estão vendendo lotes do cemitério com certificado de garantia de que os defuntos não sairão dos seus túmulos. O terreno é escasso e a necessidade é grande. Tem gente vendendo duas vezes o mesmo lote, o que incomoda quem está na sua última morada.
Azarias, antigo coveiro, teve um sonho, e nessa fantasia constatou que havia morrido. Enterrado no cemitério de Itabaiana, foi exumado por ordem da Grande Mãe das Almas para ser novamente sepultado no campo santo de Guarita, atendendo a uma querela política paroquial. Ainda deu tempo de dizer tchau aos vizinhos e pedir desculpas por qualquer coisa. No caminho, sua alma fresca decorou os nomes das ruas e os pontos de referência pra se chegar. Sabia que não iria se adaptar na nova morada. Voltaria. Era só o tempo da Dama de Ferro Velho cumprir sua sina de desencavadora de defuntos e destinos.
Itabaiana tem o único cemitério submerso do mundo, uma espécie de Veneza do além. (Foto: Marconi Xavier)
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