Quando ela vem é dia de surpresas

 

 

 

Outro dia minha diarista deixou ‘por acaso’, como que esquecido, um folhetinho da Avon em cima da mesa da cozinha e foi embora. Naturalmente eu compreendi a distração, mas me fiz de boba. Na semana seguinte ela perguntou se eu tinha olhado e queria alguma coisa. Acabei escolhendo um batom e comprei, só para ajudá-la. Passado um tempinho, ela apareceu com uma sacola preta em que se via bordada a Torre Eiffel. Não tive como não fazer um comentário, essa torre é bonita, fica lá em Paris... Eu sei, eu sei, minha tia é que me deu, ela mora na França, de vez em quando vem passar as férias aqui. Há muito tempo ela foi pra lá com uma família e acabou casando, a família voltou e ela ficou. Hoje eu trouxe umas cuecas, será que seu Zé não quer ver? Seu Zé, que lia na sala, ouviu uns trechos da conversa e consentiu. Quando abrimos a sacola e ele começou a falar em francês, eu pensei que estivesse motivado pela Torre Eiffel... Nada disso, era para a moça não entender. Ao ver as cuequinhas simplesinhas ali dentro, ele estava arrependido. Pensou que fossem francesas, das boas!  Mais uma vez, para não desapontar a ‘vendedora’, já que nós estávamos desapontados, compramos duas, afinal, eram baratas.

 

 

Hoje quando ela chegou carregando um sacolão, eu gelei. O que será desta vez?... Pelo tamanho do saco, imaginei vestidos, saias, blusas, camisolas, camisetas... tudo bem brega.  Ai, meu Deus, fingi que nem vi. Ela começou a trabalhar e lá pelas tantas me chamou, apontando o saco. Depois a senhora dá uma olhada, viu? Assim que ela virou as costas, vi. Eram toalhas de banho com barrados de crochê até bem feitinhos, mas com enormes flores pintadas. Feias de doer.

 

Desta vez não comprei nada. Disse a ela que tenho suficiente número de toalhas e além do mais, prefiro que sejam lisas, sem nenhum enfeite. Nem tive coragem de perguntar quem as pintou.