Yo  soy  un hombre sincero
 
 
                               A minha turma, aquela turminha mais “chegada”, mais generosa,  deve estar estranhando o título da crônica em espanhol.  -Mas precisa apelar para o espanhol? – dirá o meu pessoal.
                               E eu  me apresso em dizer: “ preciso, sim, só no espanhol parece que consigo transportar para o papel este sentimento oceânico que há uma semana me invadiu todo o ser e não me abandona de jeito nenhum.
                               O grande psicólogo e humanista Maslow, de quem fui fã número um no meu curso de psicologia, na última fase da vida dele, costumava dizer que se sentia apunhalado por tudo que o rodeava. Pelas flores, pelas árvores, pelo céu, pelas  nuvens e, naturalmente pelas pessoas. Ele sentia um amor imenso pela humanidade e queria passar isso para todos e, também, lembrava muito dos seus netos, ainda tão novinhos diante de uma vida incerta e perigosa...
                               Amigos e amigas, me desculpem. Não chego a ter esse sentimento divino do Maslow, mas me sinto transbordar. Gostaria de falar tanta coisa boa, mas as palavras, que adoramos, nessa hora, não conseguem dizer tudo. Talvez por isso o meu título em espanhol.
                               Vou contar  essa    história do espanhol para vocês. E já vou dizendo: “quem puxa aos seus não degenera”
Meu velho pai amava a vida e tinha muita alegria de viver. Ele me dizia, apesar de todos os problemas da vida, que gostaria de viver para sempre.
Nas nossas festas familiares, lá estava meu pai distribuindo alegria. E nessas horas de descontração, na hora das despedidas, depois de ter tomado um pouquinho de vinho, meu pai desandava a  discursar  em espanhol. E o mais gozado,  nunca aprendeu espanhol. Começava com a frase predileta dele: “ me quedo sabiendo que usted...” Enrolava a língua e não parava mais.
Na casa da  prima  Irene era quando ele mais se soltava. Perdíamos uma hora na porta do apartamento vendo papai hablar e exaltar a prima como a mulher mais maravilhosa do mundo, sob o olhar embevecido do marido dela, o nosso querido primo Clóvis. E um olhar ciumento da minha mãe. E era verdade, a Irene foi uma mulher exemplar, digna de ser recordada.
Acho que,  agora, a turma está entendendo o meu espanhol neste dia.
Queria dizer que a palavra “apunhalado”  usada pelo Maslow me soa um pouco violenta, mas vejo que traduz o sentimento forte dele.
               Eu, mais modestamente, diria que me sinto profundamente abraçado por tudo que me rodeia, principalmente pela minha “turma mais próxima”.
               Fico frustrado por não conseguir passar para os amigos essa avalanche, essas “águas de março”  que estão lavando minha alma.
               Mas quero que saibam que tudo que disse e, principalmente, o que não disse é a mais pura verdade, porque Yo soy un hombre sincero.