UM AMOR DE VERDADE

Parece uma história fantasiosa de filmes e livros, mas é verdadeira, aconteceu. Um amigo de meus amigos que não vinha a sua cidade natal há mais de 40 anos resolveu vir matar as saudades da sua infância e adolescência e me procurou.

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Apesar de sua idade avançada, de seus cabelos brancos e a marca do tempo em sua pele, transmitia uma juventude pelo seu grande amor a vida, um alto astral invejável embora a sua saúde estivesse comprometida, mas sob controle.

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Ele me procurou não para que eu mostrasse a cidade ou para buscar informações de seus amigos, mas para que eu o ajudasse a encontrar uma pessoa especial. O grande amor de sua vida, sua primeira namorada. Não poderia negar prestar esse favor em prol de uma causa digna, “o amor”.

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Fiz algumas pesquisas e localizei a grande Deusa, depois de passar alguns telefonemas e chegar até uma rua na qual eu bati em umas três portas até encontrar a casa que procurava. Ela veio me atender sem nunca imaginar o que me levava até ali. Apesar de sua idade, tinha marcas de uma linda mulher, porém parecia não ter muito interesse em si produzir, estava largada, sem vaidade. O certo é que lhe comuniquei o motivo de minha visita e combinamos que no final da tarde eu retornaria levando em minha companhia o melhor presente que alguém poderia ganhar naquela fase de sua vida. Nunca esqueço do brilho dos seus olhos, da felicidade, da surpresa, da alegria que envolveu aquela mulher com a minha justificativa da estada em sua casa.

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Final da tarde adentrei naquela residência acompanhada “dele”. Quase não a reconheço. Estava belíssima, parecia uma outra mulher, cabelo arrumado, bem vestida, elegante e a felicidade se responsabilizava de dar todo o toque de beleza que uma mulher precisa.

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Deixei-os a sós. Não posso contar o que aconteceu ali porque não presenciei. Mas pelo o encontro dos dois, coisa de filme, muita emoção, que não se explica com palavras imagino que tenha rolado lágrimas, beijos, abraços, declarações e tudo mais.

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Era preciso retornar. Impossível ficar mais tempo embora o casal tivesse a vontade de recuperar todo o tempo perdido. Por que um dia se separaram? Coisas do destino, as estradas às vezes se tornam paralelas e um dia elas mudam sua rota, se cruzam, foi o que aconteceu. E pela lei da vida, ele teve que retornar ao seu lar doce lar. Voltou fortalecido, alimentado pela alegria, pela felicidade o que lhe deu mais alguns anos de vida apesar dos problemas de saúde.

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Eu sabia que eles ficaram trocando correspondência. Isso fazia bem para os dois. Renovaram suas vidas. Eram felizes. Cada carta, cada cartão era motivo de felicidade.

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Um dia, um belo dia, meus amigos me enviaram pelo correio um cartão com a foto dele, dizendo assim:

“Há um tempo que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem forma de nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É tempo de travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos” - Pe. Fábio de Melo/Gabriel Chalita.

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A foto do amigo dos meus amigos que se tornou meu amigo, parecia me dizer sorrindo: “Estou feliz onde estou”. Fiquei em dúvida se passava adiante aquele cartão. Resolvi não passar.

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Depois de algum tempo me encontro com a “Deusa”, a mulher mais amada que conheci até hoje na face da terra. Ela veio ao meu encontro. Abraçou-me com entusiasmo. Para ela eu parecia ser a continuação dele, porque eu fui a ponte entre eles. E me contou: eu enviei uma correspondência como uma foto de quando ele tinha quinze anos, dizendo para que ele guardasse uma vez que é costume daqui , quando as pessoas morrem, seus pertences serem rasgados, por isso era melhor que ficasse com ele, assim sua família poderia guardar mesmo que ele faltasse. Continuando sua fala, disse-me com tristeza. Ele ainda não respondeu minha carta. Faz tempo que enviei.

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Não tive opção. Falei que ela não iria ter mesmo resposta. Não esqueço também sua cara de espanto. Colocou a mão no coração e balbuciou: Não acredito. Ela entendeu minha mensagem. Para confortá-la falei que agora só restava rezar e que ela não ficasse triste, porque ninguém no mundo foi tão amada.

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No dia seguinte fui até sua casa e entreguei o cartão que comunicava a viagem de seu grande amor para uma outra dimensão. Observei uma coisa. Apesar do sofrimento ela estava linda. Existiu duas mulheres numa só pessoa. Aquela antes da minha visita. Uma criatura que parecia ter perdido a alegria de viver e uma outra depois daquele dia. Vaidosa, sempre de cabelo arrumado, batom, brinco, enfeitada, uma nova mulher. Acho que se renovou pelo amor. Penso que tudo valeu a pena.

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 04/10/2011
Reeditado em 20/04/2020
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