O SUS E OS CONVÊNIOS
Tempos atrás senti uma dormência no braço esquerdo quando me exercitava na esteira, preocupado porque dizem os entendidos que seria um sintoma de enfarte procurei uma conhecida Clinica Médica baiana próxima de casa.
Chegando lá me identifiquei na recepção e gentilmente me encaminharam para o setor de espera de Convênios, uma sala limpa, recém pintada com poltronas confortáveis, ar condicionado e televisão, onde poucas pessoas aguardavam atendimento. Depois de algum tempo um funcionário da clínica me informou que o médico demoraria mais de uma hora, pois estava realizando uma cirurgia de emergência, mas que se estivesse com pressa poderia ser atendido pelo médico do SUS.
Como não tinha um médico em especial aceitei a oferta e me indicaram que subisse a escada para o local de atendimento do SUS, chegando lá era evidente a diferença do atendimento muitas pessoas esperando em pé ao longo de um corredor escuro e estreito com várias saletas de consultórios, comecei a me arrepender de ter aceitado a oferta e me preparei para esperar por horas.
Para minha surpresa, rapidamente saiu um médico de uma das saletas e gritou o nome de três pacientes, inclusive o meu! Não entendi nada, mas segui os outros dois pacientes, um homem e uma mulher, entramos os três no consultório. O médico mandou ficarmos de pé lado a lado e também em pé atrás de sua carteira aponta para mim e pergunta:
- Você, diga seu nome e o que está sentindo
Respondi:
- Eu sou Paulo e não estou entendendo absolutamente nada!
Ele me olhou meio incrédulo e disse:
- Ah, já sei, tem alguma coisa mais intima espera ai então.
O Doutor aponta para a mulher ao meu lado e dispara a mesma pergunta:
- Você, diga seu nome e o que está sentindo.
A pobre mulher começa a desfiar seu rosário de queixas e as dores que sente, quando começa a falar de sua vida pessoal é logo interrompida pelo Doutor:
- Tá bom já sei, aponta para o senhor ao lado e insiste:
- Você, diga seu nome e o que está sentindo.
O paciente explica que está ali voltando com os exames que foram solicitados, mas que só foram realizados oito meses depois da primeira consulta, o Doutor olha rapidamente e diz:
- Já sei, já sei!
Rabisca algumas coisas nos receituários e entrega para os dois pacientes empurrando-os para fora, olhando para mim continua:
- Você, diga seu nome e o que está sentindo
Eu insisto:
- Meu nome é Paulo e não estou entendendo nada! Atendimento coletivo será que estamos em guerra?
O Doutor me olha coça a barba rala e diz:
- Você não é paciente do SUS?
- É verdade não sou.
O Doutor meio preocupado me esclarece:
Olha só, tenho que atender todo esse pessoal ai fora, por isso chamo três pacientes de vez a cada 15 minutos, não posso fazer mágica.
Respondo que nunca vi nada parecido e me despeço. O doutor insistiu para que contasse o problema que eu seria atendido, agradeci e me retirei rapidamente da Clínica, ainda estarrecido com o sistema de atendimento dispensado aos pacientes do SUS e com meu problema de saúde sem resolver.
Que, aliás, era apenas um problema de coluna e graças a Deus nada de enfarte nem de atendimento pelo SUS.