Problema de Pedro

Lembro-me como se fosse hoje daquele homem esquisito, que em uma segunda-feira ensolarada e úmida, decidiu almoçar no pequeno restaurante em que trabalho como garçonete.

Ele era um sujeito miúdo, pele bronzeada e castigada pelo sol. Usava roupas velhas e um grande chapéu de palha.

Fui até sua mesa com a cardenata na mão, e disse como de costume:

- Meu nome é Paula. Já decidiu o que vai pedir?

O homem passou os olhos rapidamente pelo cardápio:

- Peixe no ponto com polenta - decidiu-se após alguns instantes.

- E para beber?

- Pepsi!

Vinte minutos depois, e após atender mais alguns clientes, voltei com o pedido do sujeito esquisito. E ele, muito atrapalhado, derrubou refrigerante em toda a mesa.

- Pode pegar pano? - perguntou-me.

Assenti, começando a notar seu estranho vocabulário.

Quando voltei com o pano, tomei a liberdade de mee sentar na cadeira a sua frente. Ele pareceu não ligar.

- Queria fazer uma pergunta... - comecei, um pouco hesitante.

- Pode perguntar. - ele disse, ainda concentrado em limpar a sujeira que tinha feito.

- Qual é o seu nome?

- Pedro Prudêncio Pereira Pessoa!

- De onde você é?

- Pernambuco.

- Qual é sua profissão?

- Pedreiro.

- Onde mora?

- Perto do posto Petrobrás.

Confesso que fiquei completamente fascinada. Eu queria testá-lo ao máximo, por isso fui burra o bastante para fazer a seguinte oferta:

- Olha, senhor, pode parecer estranho, mas se disse mais cinco palavras que comecem com a letra "P", o almoço sai por conta da casa.

Ele olhou para mim, parecendo confuso e desconfiado. Porém, depois de alguns instante, finalmente falou:

- Preto. Poste. Ponte. Praia. Prato.

Eu ia começar a protestar, quando o homem levantou-se e disse com um pequeno aceno:

- Pronto, pequena Paula, pode pagar. - e saiu.