Eça de Queirós ao sabor da gastronomia!
"Os portugueses sempre souberam honrar a boa gastronomia, então, nada como escrevê-la e descrevê-la em prosa e verso, assim, o fez Eça de Queirós em seus romances. Os personagens tiram nacos de bacalhau ao sabor de um bom azeite português e de quebra lambem os beiços com as iguarias feitas com ovos e muito açúcar dos deliciosos doces. Hum! Manjar dos deuses!"
A arte do prazer da comida motivou génios como Leonardo da Vinci, inventor de vários acessórios de cozinha, como o célebre "Leonardo" para esmagar alho, regras de etiqueta à mesa, para além de novas receitas.
Eça de Queiroz, escreve sobre a reação de Leopoldina, diante do bacalhau servido por Juliana: primeiro, como o texto nos mostra , ela faz "uma ovação"; logo, toca-lhe com a ponta dos dedos, faminta: "vinha louro, um pouco tostado, abrindo em lascas". Depois pede a Juliana que lhe traga alho:Esfregou-o em roda do prato esborrachado, regou as lascas do bacalhau com um fio mole de azeite com gravidade. Divino! -exclamou.
A gastronomia despertou curiosas sensibilidades em músicos como Rossini e em escritores portugueses e estrangeiros. Camilo Castelo Branco era avesso a descrições mas não resistiu a descrever um saboroso caldo verde, enquanto que Eça de Queirós tem inúmeras menções a restaurantes nas suas obras.
O prazer proporcionado pela comida é um dos factores mais importantes da vida depois da alimentação de sobrevivência. A gastronomia nasceu desse prazer e constituiu-se como a arte de cozinhar e associar os alimentos para deles retirar o máximo benefício.
Eça de Queirós escreve sobre o personagem Gonçalo, boca aberta, diante da sopa, que até esquece por momentos da sua importante conversa com o Pereira e mergulha na contemplação do prato: fica sem falar ou melhor mudo.
A deliciosa queijadinha, em dois momentos aparece no romance; Os Maias, e assim, mostra um certo humor ao caracterizar uma personagem ou expressar a "non sense" de uma situação. Cruges, o músico, do início ao final do passeio a Sintra, insiste na compra das queijadinhas para a mãe. À volta, lembrando-se tardiamente delas, solta um berro, que muito espanta os companheiros, embevecidos a ouvirem na noite de luar os versos recitados pelo Alencar.
Na visita de João da Ega ao Ramalhete, também, quando ele se encontra de chofre com Maria Eduarda, pela primeira vez: sente-se ele a princípio assombrado, intimidado. Tem na mão um embrulho pardo mal atado de queijadinhas, que escapam de suas mãos no momento em que se defronta com a jovem e espalham-se pelo tapete.
Na "A Cidade e as Serras", a parada do peixe no elevador, entre a cozinha e a sala de jantar do 202 de Jacinto. Este episódio considero o lado sarcástico do humor de Eça ao descrever o fato: A refeição tinha sido concebida idéia do anfitrião por causa de um conhecido e raro peixe da Dalmácia, oferecido pelo grão-duque, que exigira em troca uma ceia à altura do petisco. O prato, contudo, fica preso em meio do caminho, porque o elevador dos pratos quebra. Todos correm para admirá-lo:
Na "A Cidade e as Serras", a parada do peixe no elevador, entre a cozinha e a sala de jantar do 202 de Jacinto. Este episódio considero o lado sarcástico do humor de Eça ao descrever o fato: A refeição tinha sido concebida idéia do anfitrião por causa de um conhecido e raro peixe da Dalmácia, oferecido pelo grão-duque, que exigira em troca uma ceia à altura do petisco. O prato, contudo, fica preso em meio do caminho, porque o elevador dos pratos quebra. Todos correm para admirá-lo: na treva, sobre uma larga prancha, o peixe precioso parecia deitado na travessa, chamando os convidados para cheirá-lo, ainda fumegando, entre rodelas de limão.
Tentam em vão pescá-lo, e depois de inúmeras tentativas, os convivas que era pensam estar mais divertido pescá-lo do que comê-lo"".
A citações dos romances de Eça de Queiroz foram todas extraídas da edição da Aguilar, Rio, 1970, em dois volumes.
GUERRA DA CAL, Ernesto. Língua e estilo de Eça de Queiroz. Coimbra: Almedina (1981),