COMO É FAZER 61 ANOS

COMO É FAZER 61 ANOS

Em breve eu vou mudar de idade, em poucos dias eu estarei mais velho mas não tenho me preocupado com isso, até dizem que remoço a cada dia. Bondade das pessoas sei não é verdade, mais tenho feito um grande esforço para manter a minha jovialidade espiritual e isso tem sido ótimo. Primeiro porque tenho filhos ainda jovens e eles com as suas simbioses tão comuns no mundo moderno não conseguem ver o meu anacronismo que talvez o chamassem de xucro ou mesmo indelével, na grande confusão que assomou a nossa sociedade. Assim tenho passado os últimos anos tentando agradar a gregos e troianos, mesmo sabendo que quase sempre não agradamos a ninguém quando há interesses pessoais ou quando as pessoas pretendem ser mais do que realmente são.

É um grande peso sobre a cabeça de um filosofo pensante que tenta fazer com que o mundo seja menos ruim do que realmente é, se as pessoas agissem de forma diferente, almejassem o bem do próximo, e a cada dia sorvesse a taça do vinho do afeição e se inebriassem de amor, flutuassem sobriamente entre os irmãos e pudéssemos entender a cada um, perdoar com sinceridade e, em todos os momentos da vida pudéssemos agir com toda a naturalidade porque nesse termo seriamos reais, verdadeiros e amorosos... Enfim, nada acontece e o grande conflito já não vem, mais se encontra entre nos. A essência do mal nos torna muitas das vezes juízes implacáveis e em nosso julgo, condenamos somente pelo ato, não procuramos as causas,, as nuances, porque não entendemos o cerne daquilo que realmente acontece,

A escola do mal adentrou as nossas casas se instalou nos programas de TV, nas salas de cinemas ou até mesmo nos DVD´S piratas espalhados pelas calçadas das cidades, de filmes violentos e assustadores e de jogos que até ensinam a matar. O tilintar de videogames, jogos de computadores e outros de estilo a cada vez mais nos induzem à violência e a imoralidade da pornografia que se tornou uma indústria.

Mais hoje eu acordei mais cedo, sentei no meu terraço com um lápis e papel e tracei algumas palavras que seria o ensaio de minha crônica para o Canto do Escritor onde assino uma coluna. Em alguns minutos os primeiros raios de sol atravessaram a orquídea japonesa, um presente de mais de 3 décadas da minha amiga Dra. Jesus Façanha, que é destaque central de meu jardim e ofuscaram-me a mente. Em segundo eu me transportei para a Avenida Beira mar em minha infância e vi um enorme navio cargueiro de cor negra, esfumaçando o céu azul e apitando com a sua sirene estridentes, percorri mais alguns anos e me vi sentado junto a Manolo um amigo de ginásio na casa de Dona Lenoca na Vila Palmeira tomando uma cerveja e rodeado de belas moças, aquela casa que hoje tenho saudades. .. Abri os olhos, corri para o espelho de meu closet que refletiu um homem cansado, de cabelos grisalhos, sobrancelhas com mais cabelos brancos que o comum e um rosto que já começa a mostrar rugas de expressão. Na minha mente eu voltei a ouvir o apito do navio negro as rasgar os mares entrando no canal rumo ao antigo Porto da Praia Grande e pensei lá vem os meus 61 anos de idade. Trabalhei a vida inteira e nessa etapa da existência ainda continuo a trabalhar arduamente porque não consegui fazer patrimônio e nem tampouco juntei dinheiro.

Tenho uma confortável casa, um cachorro, um filho adolescente e outro que se separou recentemente e mora comigo. Tive algumas mulheres e centenas de grandes amantes mais hoje não tenho com quem dividir a cama, a mesa e nem quem me acompanhe no meu caminhar, mesmo assim eu não me reclamo porque não tenho falta eu sinto saudades...