O sol pequeno dentro de um arco-íris
Passou o dia e eu não escrevi nada sobre o fenômeno que aconteceu com o sol de Brasília. Escrevi sobre endoscopia, sobre o Artur da Távola, mas não sobre o sol. Enfim, ainda há tempo. E, em minha defesa, tenho a dizer que nem o Jornal de Brasília e nem o Correio Braziliense acharam que este havia sido o principal assunto do dia. Ambos preferiram deixar a capa para o assassinato cometido por um professor de direito contra uma de suas alunas, com quem tinha um relacionamento. Eis aí tudo: de dia, acontece um belo fenômeno com o sol, e que chama a atenção de quase todos os brasilienses. Vem a noite e um professor resolve estragar tudo e ocupar todas as manchetes do dia seguinte.
Como não sou um cronista policial, prefiro falar do sol. O caso é que, no final da manhã, alguém – quem, quem pode ter sido esse precursor? – resolveu erguer os olhos e percebeu que havia algo de diferente no sol. Era como se ele estivesse cercado por um arco-íris. O sol pequeno dentro de um círculo enorme brilhando como arco-íris. Era uma bela cena. Pois os primeiros que perceberam trataram logo de disseminar a informação. Os brasilienses passaram a ouvir uns dos outros: “Você viu o sol?”. Ora, essa não é uma pergunta que se faça em Brasília, onde não há nada mais natural do que o sol. Por isso, estávamos todos descrentes quando fomos até a janela olhar o que podia haver de diferente nele. Mas fomos surpreendidos! Todos foram. Em pouco tempo, a euforia tomou conta da cidade: havia alguma coisa estranha acontecendo com o sol e todos precisavam saber disso.
Observou-se, em seguida, um outro fenômeno curioso. Acreditando estar presenciando um evento raro, os brasilienses começaram a mirar os seus celulares na direção do sol – queriam fotografá-lo. Feito isso, disponibilizaram as imagens nas redes sociais. E lá ficaram, verificando qual a reação que a foto havia causado. Embora todos tenham reconhecido a beleza da cena, ninguém gastou muito tempo admirando – trata-se do sol, afinal, e não conseguimos olhar diretamente para ele. De toda forma, é curioso que toda a nossa excitação tenha se concentrado nas redes sociais, enquanto que o próprio evento estava disponível em nossas janelas, da porta de casa pra fora. Foi como se quiséssemos apenas fazer o registro do acontecimento. Ficamos mais preocupados em mostrar a nossa participação em um evento que julgávamos extraordinário, ao invés de aproveitá-lo. Falo isso e admito que agi exatamente assim. Olhei o sol, vi que algo estava diferente, e parti para as redes sociais. Lá fiquei, enquanto o sol continuava oferecendo o seu espetáculo.
Gastei muitas linhas falando do homem e de como reagiu. Nada expliquei sobre o fenômeno – havia, na verdade, uma explicação lógica por trás dele, e dizem que inclusive nem é tão raro assim. Chama-se halo solar. Uma auréola ao redor dele, um anel de luz. Tem a ver com cristais de gelo na atmosfera, atravessados pelos raios do sol. É bonito. Houve até uma fotografia tirada da frente do Congresso, dando a impressão de que uma grande auréola pairava sobre o lugar. É a prova maior de que o sol realmente brilha pra todos.