SEPHORA DE PARIS

Na Avenida Champs Eliseés, a mais movimentada, chic e luxuosa de Paris, várias grifes se destacam com suas exuberantes lojas abertas ao público classe A. Nesse lugar glamuroso ocupam espaços grandiosos as marcas mais caras do mundo que aqui não cito para não fazer propaganda gratuita de quem não necessita disso. Vê-se entrando e saindo nesses estabelecimentos de fachadas estonteantes pessoas de alto poder aquisitivo que são atendidas por funcionários atentos e risonhos preparados para vender de qualquer maneira a caríssima mercadoria exposta de forma até insultuosa. Circulam por essas ricas grifes principalmente chineses, dezenas deles, centenas talvez, disputando as últimas novidades das mais novas coleções recém chegadas. Eles se atropelam aos bandos, como manadas de bois desesperados, agarram bolsas de mil ou dois mil euros e fazem fila tanto para serem atendidos quanto para efetuar o pagamento do produtos adquiridos. Riem, falam alto, discutem parecendo crianças encantadas em lojas de brinquedos. Saem carregados de pacotes, sempre sorrindo o tempo todo, deixando nas lojas milhares de euros que enriquecem ainda mais quem já nada em oceanos de dinheiro.

Uma inusitada curiosidade, inesperada ao meu ver, despertou minha atenção quando resolvi conhecer um desses estabelecimentos situados na referida e famosa avenida. Eu já ouvira falar muito da Séphora e tinha bastante interesse em fazer demorado périplo em seu interior. A loja de Paris é realmente imensa e tem praticamente de tudo relativo a cosméticos e afins. Estava apinhada de gente comprando, passeando, sendo atendida pelos vendedores, olhando os produtos e se perfumando, se maquiando, se penteando... Foi exatamente isso que chamou minha atenção. Rapazes e moças, senhores e senhoras se aproximavam de uma plataforma situada bem no meio da loja e lá, sem qualquer cerimônia, pegavam perfumes, batons, bloss e todo tipo de itens de maquiagem e, calmamente, sob o cândido olhar de alguns vendedores, se regalavam como se estivessem em suas próprias casas se preparando para sair. Muitos ainda tinham os cabelos molhados, usavam os secadores, os espelhos, os pentes, as escovas, e saíam perfumados, maquiados e prontos para desfrutar a noite da Champs Elysées.

Tudo aquilo na Séphora pareceu-me estranho, inclusive sem qualquer justificativa, fiquei perplexo ao constatar que o fato era encarado com a maior naturalidade por todos. Não vi nenhum dos que se aproveitavam da loja comprando nada. Eles e elas simplesmente usavam os produtos de forma ousada e na maior cara de pau e depois iam embora. Isso durou todo o tempo em que permaneci no local, e decerto acontece todos os dias da semana. A propósito, e o mais inexplicável, as atendentes mesmo se encarregavam de maquiar as mulheres que chegavam para se aproveitar dessa inimaginável regalia. Escovavam seus cabelos, acertavam os contornos das sobrancelhas, passavam batom, pintavam ao redor dos olhos, deixavam-nas prontas para as baladas noturnas. Quanto aos homens, este se banhavam com os perfumes mais diversos enquanto aguardavam as amigas, namoradas ou companheiras que com eles vinham e finalizavam seus make-ups.

Como era um dia de sábado, a Séphora só fecharia suas portas uma hora da madrugada. Nesse período, enquanto aberta estivesse, inúmeros clientes sem futuro iriam chegar para se preparar ali mesmo e curtir a noite. Quando saí da loja, depois da meia noite, a plataforma dos perfumes, cosméticos e demais parafernália feminina continuava apinhada de pessoas fazendo lá o que deveriam fazer em suas casas. Aturdido, não consegui compreender por que a gerência do estabelecimento permitia a presença de tantos aproveitadores dia após dia - contaram-me ser normal, diário e constante o fato - na elegante loja. Foi o único lugar onde presenciei tamanha estranheza numa das avenidas mais luxuosas do planeta.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 02/10/2011
Reeditado em 04/10/2011
Código do texto: T3253405
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