Para que serve?
O encarte Equilíbrio da Folha de S. Paulo, publica um especial (27/09/2011) com posições e questionamentos sobre a Psicanálise. Faz um enquete com vários psicanalistas, tomando a pergunta básica como norte: ”Serve para quê?”. Responde um deles, Contardo Calligaris: “Serve para diminuir ao mínimo possível o sofrimento neurótico e o sofrimento banal, ou seja, reduzi-los ao que é totalmente inevitável, serve para tentar reorientar ou desorientar a vida da gente; desorientar é uma maneira de orientar! Enfim, serve para tornar a experiência cotidiana mais interessante. Pensando bem, quase tudo se inclui nessas três coisas.”
Transcrevi a resposta completa, porque aprovei-a integralmente. Fiquei refletindo se a pergunta fosse feita a mim, o que diria? Acrescentaria que a Psicanálise serve para aliviar o fardo dos conflitos próprios nas pessoas neuróticas, que são as “normais”, e proporcionar um mergulho nos sentimentos, utilizando a competência da escuta profissional, que permite a própria escuta de quem está em processo de acompanhamento para, pouco a pouco, conseguir discernimento para melhor administrar a vida, com menos carga de sofrimento e culpa. Uma paciente , após receber alta, depõe: “A análise desautorizou o meu sofrimento e me fez responsável pela minha vida, minha dor. Tirei a muleta.”
Como precisei da Psicanálise! Estava destinada a ter contato com ela pouco depois de completar meus quinze anos. Acompanhava uma amiga às sessões com o grande psiquiatra e psicanalista, pioneiro da técnica em Maceió, creio que no Nordeste, Dr.Sadi de Carvalho. Sabia, particularmente, dos conflitos emocionais que minha amiga vivia. Eu entrava com ela na sala e, naturalmente, ficava muda, só prestando atenção às falas e fazendo as minhas reflexões. Hoje sei que a origem da minha paixão pela Psicanálise e os grandes benefícios que tive com ela, em anos de minha vida, estava na adolescência.
Passei anos em contato com a Sociologia em que os fatos são identificados, controlados, computados etc. Passar para o mundo subjetivo, falar dos meus dilemas, indecisões, afetos e desafetos, competições, contradições e outros não foi tarefa fácil para viver de perto as minhas formações psíquicas e melhor administrá-las. Permitir a “desorientação”, como diz Calligardi, implica em abrir mão de comportamentos estáveis, embora muitas vezes impróprios e inaceitáveis. O querer mudar é o primeiro passo, implicando os riscos de mudança, embora só ocorra se for realmente o desejo.
Não há idade para buscar a Psicanálise, porque o bem estar mental deve ser sempre buscado. Há psicanalistas que acreditam que a busca pela Psicanálise ocorre a partir de um grande sofrimento. Sente-se que as coisas precisariam serem mudadas e não se sabe como, ou como criar coragem, sente-se um desamparo, uma tristeza grande e o desejo vai tomando impulso e a busca pelo profissional acontece. Alguns resistem na procura, outros acreditam que em duas ou três sessões o problema é resolvido. Alguns desistem no caminho. É desafiante entrar e permanecer no processo e não é para todos, além de implicar tempo e dinheiro. Para muitos é mais rápido e fácil usar os fármacos. Esquecem que eles apenas ajudam, mas o sofrimento psíquico possui causas mais profundas que, muitas vezes, só o medicamento não dá conta.
Atualmente a Psicanálise usa a técnica para resolver muitas das patologias da atualidade, como fobias, pânico, depressão e outras. Há patologias que é necessário o acompanhamento com o psiquiatra, bem como para alguma emergencial a Psicologia Cognitiva Comportamental está mostrando bons resultados. O importante é saber informações sobre a qualificação profissional para se buscar ajuda para conseguir uma vida mais saudável e equilibrada, que é o desejo de todo ser humano.