LENDO O OUTRO: A LEITURA DO CORPO
Este é um tema vasto e muito estimulante, inclusive até já escrevi um pouco a respeito, em outro texto (COMUNICANDO). A linguagem do corpo é uma maneira emblemática de se comunicar.
Comumente nem percebemos, mas o nosso corpo denota o que de fato estamos pensando e sentindo. Ou seja, através do corpo refletimos o caráter, os conflitos íntimos, traumas e emoções - alegria, raiva, ansiedade, dor, tristeza, cansaço, frustrações, prazer, enfim, a linguagem do corpo desnuda a nossa personalidade. Wilhem Reich ilustra bem isso na seguinte frase: “O corpo é o inconsciente visível”.
Costumo observar o comportamento dos seres vivos, em especial o do ser humano e, de certa forma, através da leitura corporal tenho conseguido decodificar o que se passa na mente das pessoas.
Em seu livro O Corpo Fala?, o psicanalista José Ângelo Gaiarsa afirma que “a linguagem corporal é a mais primitiva forma de comunicação entre os animais”, e continua: “Um observador atento consegue ver no outro quase tudo aquilo que o outro está escondendo - conscientemente ou não. Assim, tudo aquilo que não é dito pela palavra pode ser encontrado no tom de voz, na expressão do rosto, na forma do gesto ou na atitude do indivíduo”. Segundo ele, “se o corpo não falasse, a palavra não teria sentido, justamente porque ele sinaliza intenções, mostra emoções, assume atitudes, faz mil gestos e mil caras”. E uma das suas afirmações mais interessantes é a seguinte: “Aquilo que de mim eu menos conheço é o meu principal veículo de comunicação”.
Realmente, o nosso corpo é um dos meios mais claros de comunicação, e nem precisamos ser alfabetizados para ler o outro, é necessário apenas um mínimo de atenção para se fazer essa leitura. Através de gestos e atitudes o corpo mostra o que realmente está se passando em nosso âmago.
Durante a apresentação de um seminário, incorporei a belíssima crônica Ler o mundo, de Affonso Romano de Sant’anna, que começa com as seguintes frases: “Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não. Depende de quem lê. (...) Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não. Ou não, porque nem sempre deciframos os sinais à nossa frente. (...)”. Diante de tamanha beleza e profundidade, senti-me completamente imbuída pelas palavras do autor, por isso, ao declamar aquele texto/poesia naquele momento, viajei encantada “para além das palavras”, como se expressou Clarisse Lispector em seu livro Água Viva: “Encarno-me nas frases voluptuosas e ininteligíveis que se enovelam para além das palavras. Lemos com o corpo todo, nosso corpo linguageiro.” É isso aí.